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Afeganistão

Clientes relatam 12 horas de pesadelo em ataque a hotel de luxo em Cabul

O ataque iniciado na noite de sábado contra o Hotel Intercontinental de Cabul, no Afeganistão, terminou na manhã deste domingo (21) após 12 horas de pesadelo para clientes e funcionários do estabelecimento. O número de mortos subiu, passando de seis pessoas, anunciadas no período da manhã, para 18 vítimas, sendo 14 estrangeiros e quatro afegãos.

Um homem tenta escapar de ataque ao hotel Intercontinental, em Cabul, no Afeganistão.
Um homem tenta escapar de ataque ao hotel Intercontinental, em Cabul, no Afeganistão. REUTERS/Omar Sobhani
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Segundo informações do Ministério do Interior afegão, a ação foi organizada pelo grupo terrorista Haqqani, ligado aos talibãs e suspeito de conexão com o serviço secreto paquistanês. Em comunicado neste domingo, o porta-voz dos talibãsZabiullah Mujahid reivindicou o ataque, descrito como "um inferno" por clientes nas redes sociais.

As autoridades afegãs encontraram os corpos de quatro homens armados que invadiram o hotel. Eles entraram no estabelecimento quando eram 21h30 de sábado pelo horário local. No entanto, o comunicado dos talibãs afirma que cinco fundamentalistas islâmicos participaram da ação.

Armados com pistolas de cano curto e granadas, eles entraram atirando contra clientes e funcionários. O quarto piso do hotel, que abriga restaurantes e uma piscina externa, foi incendiado durante a ação. Clientes relataram ter ouvido várias explosões durante a noite.

Hotel abrigava congresso de telecomunicações

De acordo com um balanço provisório divulgado na manhã de domingo, seis pessoas morreram: cinco afegãos e uma estrangeira, que não teve a nacionalidade divulgada. Ao todo, 126 pessoas foram socorridas, incluindo 41 estrangeiros, disse o porta-voz do ministério do Interior, Najib Danish. Ninguém sabe ao certo quantas pessoas estavam no local no momento do ataque.

O estabelecimento, que pertence ao Estado afegão e não à rede hoteleira de mesmo nome, é um dos cinco hotéis de luxo de Cabul e costuma sediar casamentos, conferências e encontros políticos. Neste domingo iria abrigar uma conferência anual de tecnologia em telecomunicações.

"Rezem por mim", pede cliente

Durante o ataque, o diretor regional da Afghan Telecom, Aziz Tayeb, que estava hospedado no hotel para participar de um evento anual do setor, postou no Facebook o apelo "Rezem por mim". Depois de conseguir escapar, ele contou que uma centena de colegas e amigos permaneciam bloqueados, entre a vida e a morte. "Sobreviver neste país é uma simples coincidência", escreveu Tayeb no Facebook.

O canal de TV Tolo News exibiu imagens do desespero de pessoas que tentaram escapar pelos terraços do edifício, amarradas em lençóis. Um homem não aguentou o esforço e os telespectadores da emissora assistiram sua queda ao vivo.

Um hóspede escondido em um quarto disse por telefone à agência AFP que conseguiu ouvir disparos dentro do hotel, construído sobre uma colina nos anos 1960. "Estamos escondidos em nossos quartos. Imploro que as forças de segurança nos resgatem o mais rápido possível, antes que eles nos encontrem e nos matem", afirmou. Ele também informou que forças especiais haviam chegado de helicóptero ao teto do hotel. Durante a madrugada, as forças afegãs, apoiadas por soldados da Otan, retomaram gradualmente o controle da situação.

Segurança questionada

Funcionários do hotel afirmam, sob anonimato, que os agentes de segurança fugiram "sem sequer lutar contra os agressores". Segundo um contador de 24 anos, presente no momento da ação, uma nova empresa faz desde o início do ano a proteção do hotel e seus agentes "não tinham experiência no controle de indivíduos e carros" que pudessem invadir o local.

O último grande ataque contra um hotel de luxo em Cabul ocorreu em março de 2014, quando quatro adolescentes armados invadiram o Serena, matando nove pessoas, inclusive um jornalista da AFP.

O Intercontinental já tinha sido alvo de um ataque em junho de 2011, quando um atentado suicida reivindicado pelos talibãs matou 21 pessoas, inclusive 10 civis.

Mesmo antes do fim do ataque deste sábado, as autoridades começaram a questionar como os agressores passaram pela segurança do hotel, que foi assumida por uma empresa privada, admitiu o porta-voz do ministério do Interior. "Provavelmente, usaram uma porta dos fundos na cozinha para entrar", acrescentou.

Alertas de segurança enviados nos últimos dias a estrangeiros que vivem em Cabul avisavam que "grupos extremistas podem estar planejando um ataque contra hotéis em Cabul", bem como contra aglomerações públicas e outros locais, "onde se sabe que estrangeiros se reúnem".

A segurança em Cabul tem sido intensificada desde 31 de maio passado, quando um maciço ataque com um caminhão-bomba no bairro diplomático da capital afegã deixou 150 mortos e cerca de 400 feridos, a maioria civis. Nenhum grupo reivindicou este ataque até hoje.

O grupo Estado Islâmico tem assumido a autoria da maior parte dos atentados na capital afegã, mas autoridades suspeitam que a rede Haqqani, afiliada aos talibãs, esteja envolvida em alguns deles.

O mais mortal dos ataques recentes ocorreu contra um centro cultural xiita em 29 de dezembro, quando um homem-bomba acionou seus explosivos, matando mais de 40 pessoas.

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