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O Mundo Agora

Bombardeio na Síria foi demonstração de força "supercalibrada" de países ocidentais

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O bombardeio de instalações de produção e armazenamento de armas químicas na Síria foi só uma maneira de restabelecer a credibilidade das principais potências ocidentais. Em 2012, Barack Obama decretou uma “linha vermelha” contra o regime de Bashar Al-Assad: os Estados Unidos atacariam se o ditador utilizasse armas químicas contra a sua população. 

Bombardeio no subúrbio de Damasco, em 14 de abril de 2018.
Bombardeio no subúrbio de Damasco, em 14 de abril de 2018. Handout / STR / SYRIAN GOVERNMENT'S CENTRAL MILITARY MEDIA / AFP
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Alguns meses depois, o presidente sírio matou 1,5 mil pessoas com gases de guerra e Obama ficou parado, abrindo as portas para a intervenção russa na Síria e para uma guerra de extermínio da população do país: 400 mil mortos, cinco milhões de refugiados, milhões de pessoas deslocadas e um país destruído. 

Os países ocidentais só se preocupavam em combater os terroristas do dito “grupo Estado Islâmico”, entregando o futuro da Síria para o regime de Damasco e seus aliados russos e iranianos. A falta de intervenção ocidental permitiu a intervenção massiva de Moscou e Teerã: os indiscriminados “tapetes de bombas” e as tropas estrangeiras contra cidades inteiras. 

Sem dúvida, Bashar Al-Assad prometeu desmantelar o estoque de armas químicas e não usar mais gazes de combate. Mas nos últimos tempos, voltou a bombardear bairros inteiros com cloro e agentes neurotóxicos. De novo, uma violação flagrante do direito internacional humanitário e da proibição universal das armas químicas proclamada desde o final da Primeira Guerra Mundial. 

Mas desta vez foi Donald Trump que decretou uma “linha vermelha”. Já em abril 2017, ele bombardeou uma base síria como resposta a um ataque químico perpetrado pelo regime de Damasco. A última ofensiva química de Bashar na periferia de Damasco foi a gota d’água. 

Para os Estados Unidos e as potências europeias, era de duas uma: ou mostravam que estavam seriamente dispostos a proibir o uso deste tipo de armas, ou então sinalizavam claramente que Bashar Al-Assad, os russos e os iranianos podiam fazer o que quisessem no Oriente Médio, à revelia de todos os princípios do direito internacional. Com o Conselho de Segurança paralisado por sucessivos vetos russos, não havia outro jeito senão agir sem o aval explícito da ONU.

Sob controle

A demonstração de força foi supercalibrada. Primeiro, para mostrar que havia um consenso político entre ocidentais e que na hora H, Moscou não pode contar com as tradicionais divisões no seio da Aliança Atlântica (até a Turquia apoiou a intervenção). 

Segundo, que a coordenação entre as forças armadas ocidentais e suas capacidades militares e tecnológicas continuam sendo muito superiores ao dispositivo russo (o Kremlin nem tentou usar as suas armas antimísseis modernas com receio de evidenciar a sua ineficácia). 

Terceiro: que ninguém está a fim de uma guerra entre grandes potências: os russos foram avisados com antecedência para poder proteger seus homens e material bélico. A ideia era só enviar uma mensagem: a de que Bashar Al Assad e Putin não podem fazer o que lhes der na telha.

Paz na Síria

Na verdade, já era hora. Com o fim do grupo Estado Islâmico, a questão hoje é como reconstruir e restabelecer a paz na Síria. Com os ocidentais praticamente ausentes, a Rússia vem tentando resolver o problema de maneira unilateral, cooptando o governo de Damasco, o Irã e, às vezes, a Turquia. Mas até agora foi um fiasco total. 

A única perspectiva, por enquanto, é mais guerra – e desta vez com a participação direta de potências estrangeiras (Rússia, Irã, Israel, Arábia Saudita ou Turquia). Nada mais explosivo para o mundo e, aliás, para a própria Rússia. Mas não vai haver paz sem que Putin, Khamenei e Bashar Al-Assad, aceitem negociar com toda a oposição síria, os curdos, os turcos, os países árabes, os europeus e os americanos. A ideia é voltar a turbinar o processo de paz multilateral sob a égide da ONU. 

Mas, para isso, as potências ocidentais têm que mostrar, a sério, determinação política e militar. E que Moscou e Teerã se conformem que o futuro da Síria não é só deles e terá de ser negociado com todos os outros protagonistas. Será?  
 

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