Acessar o conteúdo principal
O Mundo Agora

Migrantes na UE: tsunami ou marolinha?

Publicado em:

Um fantasma ronda a Europa. O fantasma de ser engolida por um tsunami de migrantes. É verdade que nos piores momentos das guerras na Síria ou na Líbia, mais de um milhão e meio de refugiados e emigrantes econômicos aportaram nas costas europeias.

Migrantes são vistos em um bote durante resgate feito pela tripulação do barco salva-vidas da missão Lifeline no Mar Mediterrâneo em 21 de junho de 2018.
Migrantes são vistos em um bote durante resgate feito pela tripulação do barco salva-vidas da missão Lifeline no Mar Mediterrâneo em 21 de junho de 2018. Hermine Poschmann/Misson-Lifeline/Handout via REUTERS
Publicidade

Só que no ano passado, graças às poucas medidas tomadas por países membros da União Europeia, só chegaram 40.000. Uma marolinha para um continente com uma população de 500 milhões de pessoas. Basta lembrar que 30% da população da pequena e próspera Suíça é estrangeira. O paradoxo é que quanto menos gente chega, mais histérico o debate fica.

Não há dúvida de que os atentados cometidos por terroristas islâmicos criaram um clima de ansiedade geral. De repente, a equação islã/terror/imigrantes “pegou” na opinião. Os movimentos de extrema-direita nacionalista, racistas e chauvinistas, tiveram um prato cheio. Aproveitaram o pânico para ganhar fatias significativas dos eleitorados exaltando fantasmáticas identidades cristãs, brancas e puramente nacionais.

Em nome da defesa dessas identidades, querem acabar com a integração europeia e se fechar dentro das próprias fronteiras. Defendem também governos fortes e autoritários, sem firulas democráticas e instituições judiciárias independentes. O argumento é que as democracias liberais não tem condições de garantir a segurança dos cidadãos frente ao dito “perigo” do fluxo migratório.

Claro que se esses movimentos continuarem de vento em popa, a União Europeia pode implodir. Em vários países da Europa do Leste, eles já estão no poder. E também na Áustria e recentemente na Itália. Na França, na Alemanha, na Holanda e até nos países escandinavos, eles vêm conquistando partes cada vez maiores da opinião pública. E pior ainda: boa parte da mídia europeia se deixa levar por esse ambiente de medo e acaba multiplicando as reportagens sobre os problemas de coabitação entre imigrantes e populações locais.

Sem quase nunca falar da grande maioria de experiências de integração bem sucedidas, e dos milhares de europeus que se comprometeram em ajudar os migrantes. Todo mundo sabe da intenção do novo governo italiano de impedir que navios de refugiados ou imigrantes possam aportar nas costas do país. Mas pouca gente ouviu falar da solidariedade massiva dos habitantes de Palermo ou da cidade espanhola de Valência que acolheu o meio milhar de africanos do navio “Aquarius” que nenhum outro país aceitava.

Imigração não é mais de massa

O problema é que não adianta apelar para argumentos racionais. A imigração – que não é mais de massa – virou uma questão incontornável. E a ironia da história é que só poderá ser resolvida por uma Europa unida. Nenhum país por si só tem condições de enfrentar o desafio. Só que não há consenso.

A Itália e a Grécia têm razão quando dizem que não é justo que tenham de assumir sozinhas a acolhida da maioria dos migrantes, só porque as embarcações chegam primeiro nos seus portos. As autoridades europeias estão perfeitamente conscientes que para salvar a União é preciso uma política comum de asilo e de tratamento dos migrantes ilegais. E também, que todos os países membros aceitem quotas de emigrantes. Mas por enquanto, alguns se recusam terminantemente – mas claro, querem continuar recebendo subsídios de Bruxelas.

Na última reunião de emergência sobre a imigração congregando os chefes de Estado e de governo para preparar a próxima Cúpula europeia, só 16 estavam presentes. Só saíram decisões para reforçar a Guarda Costeira europeia e promessas de dinheiro para criar centros de acolhida nas costas de parceiros africanos.

Governo alemão está ameaçado

A chanceler Angela Merkel, cujo governo está ameaçado pelas posições extremistas do seu próprio ministro do Interior, já anunciou que não vai esperar para negociar acordos bilaterais com os membros dispostos a cooperar. É um sinal para uma Europa a várias velocidades. E não é uma boa notícia para um Velho Continente que necessita urgentemente aprofundar a sua integração para poder enfrentar a hostilidade dos Estados Unidos de Trump e o desafio econômico da China.

 

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.