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Rússia faz maior exercício militar desde a Guerra Fria e mira no Oriente

Começam nesta terça-feira (11) as maiores manobras militares organizadas pela Rússia em 40 anos. O Exército russo emprega recursos impressionantes no leste da Sibéria e no extremo oriente russo. "Vostok-2018", como está sendo chamado o exercício, preocupa os países ocidentais por conta dos meios usados, mas também por causa da cooperação sem precedentes com o exército chinês.

Começaram as maiores manobras militares da história moderna da Rússia, Vostok 2018
Começaram as maiores manobras militares da história moderna da Rússia, Vostok 2018 Captura de vídeo
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Com colaboração de Daniel Vallot, correspondente em Moscou

Houve o "Zapad-2017", agora é o "Vostok-2018". Vostok significa "leste" em russo. É a região oriental do país que funciona como centro dos "jogos militares" deste ano, onde o exército russo mobiliza seus recursos humanos e técnicos.

O Ministério da Defesa admite que os recursos mobilizados são enormes e classifica a ocasião como as manobras militares mais importantes desde a Guerra Fria."Essas manobras mobilizarão um total de 297 mil homens, mais de mil aviões, helicópteros e drones", disse Valeri Guerassimov, chefe de gabinete do exército russo. "Vamos mobilizar até 36.000 veículos blindados, veículos de transporte, de infantaria e tropas... e até 80 navios. A montante, as unidades serão transportadas em distâncias de até 7.000 km na terra e até 4.000 milhas no mar".

Para o Exército russo, essas manobras "orientais" trarão uma vantagem tripla: permitir o destacamento de tropas por grandes distâncias, demonstrar a capacidade logística e de transporte das tropas e mobilizar seu arsenal mais novo: mísseis Iskander, tanques T-80 e T-90, aviões de caça Su-34 e Su-35, sem mencionar as fragatas equipadas com mísseis Kalibr.

Cooperação inédita entre Rússia e China

Mas a grande novidade dessas manobras, além dos enormes recursos empregados, é a participação sem precedentes da China. Pequim enviará mais de 3.000 homens, que participarão da encenação de guerra por vários dias com os militares russos. A China e a Rússia já haviam realizado exercícios militares conjuntos, mas nunca dessa magnitude. "A natureza desses exercícios sempre teve uma espécie de gosto antichinês e, desta vez, treinamos com os chineses", diz Rouslan Poukhov, diretor do Centro de Análise Estratégica e Tecnológica de Moscou. "Os chineses sempre relutaram em apoiar os russos no campo militar. Agora que eles estão envolvidos em uma guerra comercial com os Estados Unidos, tomaram essa decisão estratégica de enviar suas brigadas para treinar com os russos. É um grande sucesso militar da diplomacia de Vladimir Putin".

A Rússia está se voltando para o Leste de forma espetacular e com esse parceiro chinês que é uma potência econômica e militar. Desde 2014, com a crise ucraniana, essa é uma das obsessões da diplomacia russa: isolada pelo Ocidente, ela busca apoio de potências alternativas, principalmente da China. Essa mensagem geopolítica não escapará a ninguém, especialmente aos Estados Unidos e seus aliados na região, como Japão e Coreia do Sul. Tóquio expressou sua preocupação, levando a Rússia a precisar que as manobras não dizem respeito às Ilhas Curilas, que ainda são objeto de uma disputa territorial entre os dois vizinhos.

Mensagem de firmeza e poderio militar

Mas o fato de a Rússia mirar no Oriente com a sua demonstração de força militar não significa que ela esteja perdendo o interesse em seu flanco ocidental. Aos olhos de Igor Delanoë, vice-diretor do Observatório Franco-Russo em Moscou, é, na verdade, o contrário: "a maioria das tropas russas ainda estão baseadas na parte ocidental e não na parte oriental da Rússia, e isso por razões históricas. A Rússia sofreu grandes invasões principalmente a partir de seu flanco ocidental e estruturalmente os principais aparatos militares ainda permanecem voltados para a parte ocidental".

Além do alcance geopolítico dessas manobras, permanece a mensagem enviada pela Rússia: mensagem de firmeza e poder militar dirigida aos países ocidentais, é claro, mas também à população russa. "Nós, os russos, temos essa mentalidade de fortaleza sitiada, marcada pelas grandes invasões de Napoleão a Hitler", lembra Ruslan Pukhov. Portanto, a mensagem para os cidadãos é: estamos aqui para protegê-los. De fato, ao longo da última década, a popularidade dos militares aumentou continuamente - de acordo com o instituto de pesquisas Levada, segundo o qual eles são ainda a instituição em que os russos têm mais confiança. A crise ucraniana e a intervenção na Síria, consideradas tão bem-sucedidas na Rússia, deram uma imagem muito diferente daquela anteriormente veiculada pelo Exército russo, considerada uma instituição dilapidada, corrupta e ineficaz.

Essas manobras militares, cujas imagens serão transmitidas nos canais de televisão russos, certamente impulsionarão ainda mais o índice de simpatia do qual tem desfrutado o exército russo em seu próprio país.

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