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Camboja/ONU

Camboja: dois ex-khmers vermelhos são reconhecidos culpados de genocídio pela ONU

O veredito é histórico: pela primeira vez, o tribunal internacional da ONU reconheceu a qualificação de "genocídio contra os vietnamitas" por atos perpetrados pelo regime do khmer vermelho, nome dado aos seguidores do partido Comunista entre 1975 e 1979. A decisão era esperada há mais de 40 anos.

Nuon Chea, braço direito do regime de Pol Pot, compareceram ao tribunal internacional da ONU para o Camboja nesta sexta-feira (16) de manhã.
Nuon Chea, braço direito do regime de Pol Pot, compareceram ao tribunal internacional da ONU para o Camboja nesta sexta-feira (16) de manhã. Reuters
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Juliette Buchez, correspondente em Phnom Penh

Condenados à prisão perpétua, Khieu Samphan, 87 ans, ex-líder do chamado Estado democrático do Kampuchea, e Nuon Chea, 92 ans, braço direito do regime de Pol Pot, compareceram ao tribunal internacional da ONU para o Camboja nesta sexta-feira (16) de manhã. Os dois já haviam sido reconhecidos culpados de “crime contra a humanidade” em 2014, por ter ordenado a evacuação forçada da população de Phnom Penh, em abril de 1975.

Os dois agora foram condenados por genocídio. Esta é a primeira vez que o termo é usado para qualificar os atos cometidos durante o regime. Chea também foi reconhecido culpado contra a comunidade muçulmana cham. Entre 1975 e 1979, entre 100.000 e 500.000 chams, uma etnia do Camboja, foram executados pelo regime comunista do khmer vermelho, mas a morte de cerca de 1,7 milhão de cambojanos ainda não havia sido qualificada de genocídio pelas Nações Unidas.

Mas se o veredito é simbólico para os descendentes e vítimas do regime, o tribunal também é alvo de críticas. Apesar dos US$ 300 milhões investidos nos procedimentos da Justiça, apenas três representantes khmers foram condenados em uma década. A decisão anunciada hoje pode encerrar os processos judiciais contra os antigos membros do regime, muito idosos ou já mortos. Os dois acusados apelarão contra a sentença, anunciaram os advogados.

Nuon Chea, de óculos escuros, ouviu o veredito em uma cela especialmente preparada no tribunal por seu frágil estado de saúde. Khieu Samphan estava na sala da audiência.Também estavam presentes centenas de pessoas, incluindo membros da minoria muçulmana cham e monges budistas.

Atrocidades

Durante o segundo julgamento, que provavelmente será o último contra ex-membros do regime Khmer Vermelho, mais de 100 testemunhas prestaram depoimento para denunciar decapitações, estupros, casamentos forçados e canibalismo.

Os dois acusados negaram as atrocidades. Milhões de pessoas sucumbiram às práticas do regime, por fome, doença, trabalhos forçados e execuções políticas. Outros milhares morreram durante a guerra civil depois da queda da organização maoísta dirigida por Pol Pot, em 1998.

O primeiro-ministro cambojano, Hun Sen, que também ocupou alto cargo no regime do Khmer Vermelho, pediu em várias ocasiões que nenhum outro suspeito seja enviado ao tribunal pelos crimes em grande escala cometidos entre 1975 e 1979. Ele teme distúrbios no reino.

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