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Imprensa/China

Censura, espionagem e delações nas universidades chinesas

Uma reportagem do jornal Libération desta quarta-feira (5), traz um retrato do ensino universitário na China, onde câmeras de vigilância, censura acirrada, espionagem, delações e punições são a norma. Essa política de controle intelectual envenena até as relações internacionais.

O presidente chinês, Xi Jinping.
O presidente chinês, Xi Jinping. REUTERS/Thomas Peter/Pool
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Libération começa com um grupo de dez estudantes da Universidade do Povo diante da Apple Store de Pequim. Eles estão ali em apoio aos estudantes de Congqing, no sul do país, que são forçados a trabalhar gratuitamente para prestadores de serviço da marca americana. Caso contrário, ficam sem diploma. A polícia não demorou para chegar, pediu documentos e levou dois estudantes no camburão.

No dia seguinte, outro grupo de estudantes de Pequim que se reúne para estudar as teses de Karl Marx, são sequestrados por homens em civil. É um paradoxo, diz Liberation, “que o ideal marxista de luta de classes e de convergência de lutas tenha se tornado uma ameaça para um regime que de comunista so tem o nome”.

Cartilha dos perigos ocidentais

Nada pode ir contra o partido e o líder Xi Jingping. A base de toda repressão vem de um manifesto secreto, destinado ao alto escalão do partido e revelado em 2013 pelo jornalista Gao Yu, preso desde então. O chamado “Documento número 9” define os “sete perigos ocidentais”: os direitos humanos, a democracia constitucional, a liberdade de imprensa, a sociedade civil, os críticos dos erros do Partido, o capitalismo e a independência judiciária”. As universidades já receberam ordens de não abordar mais esses temas, sob riscos de represálias.

Alunos, professores e funcionários das instituições são recrutados para virar delatores. Um professor conta que seu maior prazer antes eram as trocas espontâneas com os jovens. “Agora, eu presto atenção no que falo, pois alguns são pagos pelo Partido para espionar”, conta.

Os estudantes e pesquisadores que escrevem sobre “as ideias de Xi Jingping”, são publicados pelas melhores revistas. Um professor, que pede anonimato a Libération, diz que em sua faculdade “é preciso ter referências ao marxismo e à filosofia de Xi Jinping em cada capítulo”. Um pesquisador estrageiro baseado na China fala em “delírio”: “meus colegas chineses começam a ficar preocupados com sua credibilidade no exterior”.

Estrangeiros se adaptam à autocensura

Diante desse cenário, vários pesquisadores estrangeiros adotam a autocensura, seja em Hong Kong, Europa e Estados Unidos. Eles medem as palavras para evitar que tenham o visto chinês recusado e sejam cortados do seu campo de estudos.

As instituições estrangeiras se curvam ao poder econômico da China, com raras exceções, como a Universidade Cornell, que cancelou parcerias com a Universidade do Povo depois que estudantes que protestavam em apoio a operários de uma fábrica foram detidos. Alguns universitários permanecem presos.

Libération alerta que, ao “aniquilar toda possiblidade de expressão, Xi Jinping corre o risco que a insatisfação cresça em silêncio”.

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