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Avançam negociações por ajuda humanitária ao Iêmen, onde fome ameaça 20 milhões

Terminou nessa quinta-feira (13), na Suécia, mais uma rodada de negociações de paz sobre o Iêmen que contou com a presença do secretário-geral da Organização das Nações Unidas, António Guterres. Foi uma tentativa de obter uma trégua crucial para permitir a ajuda humanitária em um país à beira da fome generalizada.

Ministro do Exterior do Iêmen, Khaled al-Yamani, secretário-geral da ONU, António Guterres, e negociador dos rebeldes, Mohammed Abdelsalam durante negociações de paz em Rimbo, na Suécia.
Ministro do Exterior do Iêmen, Khaled al-Yamani, secretário-geral da ONU, António Guterres, e negociador dos rebeldes, Mohammed Abdelsalam durante negociações de paz em Rimbo, na Suécia. Jonathan NACKSTRAND / AFP
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Uma série de acordos foram anunciados, entre eles um "cessar-fogo" na cidade portuária de Hodeida, no oeste do país, por onde chega toda a assistência internacional ao país mais pobre da Península Arábica, hoje atormentado pela "pior crise humanitária do mundo ".

O pacto prevê, ainda, a retirada das forças governamentais e dos rebeldes da cidade e do porto, controlado pelos hutis, mas que tem sido alvo de uma ofensiva militar da coalizão liderada pela Arábia Saudita. A ONU desempenhará um papel fundamental no controle do porto localizado no Mar Vermelho, informou o secretário-geral. Esses acordos vão "melhorar a vida de milhões de iemenitas", disse António Guterres.

Os dois lados também concordaram em facilitar a chegada de ajuda humanitária à cidade de Taëz. No entanto, nenhum acordo foi firmado para a reabertura do aeroporto da capital Sanaa, controlada pelos rebeldes e fechado há três anos.

António Guterres se reuniu com representantes do governo iemenita, apoiados pela Arábia Saudita sunita, e com os rebeldes hutis, apoiados pelo Irã xiita. Para incentivar a retomada do diálogo entre as partes, interrompido havia mais de dois anos, Guterres abandonou temporariamente a COP24 na Polônia para se encontrar com as delegações iemenitas.

Juntamente com o enviado especial Martin Griffiths, o secretário-geral da ONU buscava um acordo sobre a escalada militar, após quatro anos de guerra, que já deixou cerca de 10.000 mortos e ameaça 20 milhões de passarem fome, segundo a ONU. Até agora, todas as tentativas de acabar com a guerra falharam e a situação humanitária continua a se deteriorar no Iêmen, cuja economia está em frangalhos.

Um cotidiano de fome e devastação

“A vida cotidiana dos iemenitas, hoje, é uma luta constante. Eu não falo em nome da população. Mas o que eu pude viver com eles, nos últimos dias, me fez perceber que a esperança para eles é um luxo. Eles viveram e viram tantas coisas. Todos os dias eles têm que encontrar algo para comer”, relata Fabrizio Carboni, diretor do Comitê Internacional da Cruz Vermelha para o Oriente Medio, que está em Hodeida.

“O ‘hoje’ e o ‘agora’ estão muito presentes para permitir quaisquer especulações sobre o que pode resultar de Estocolmo. Eles esperam, é claro, que algo positivo saia dessas discussões, mas esta não é a primeira coisa que entra na conversa, tanto com as pessoas na rua, como com as autoridades locais. Essas lutam para encontrar água para limpar a cidade e retirar o lixo. Todo mundo está focado no imediato,” completa.

“Como entidade humanitária, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha geralmente prefere não se pronunciar sobre as negociações de paz. Mas hoje, no Iêmen, percebemos que a situação humanitária só poderá melhorar com um processo político. Os atores humanitários não representam a solução para um conflito tão massivo e devastador”, alerta Fabrizio Carboni. “Em Hodeida, onde eu estou agora, fica claro que a paz é o único plano possível. Não há plano B. Um plano B seria a guerra. Mas os sistemas existentes não são mais capazes de lidar com isso. O hospital geral de Hodeida fica a cem metros da frente de batalha. Se por algum motivo nenhum acordo for encontrado, os combates serão retomados e teremos que fechar o hospital e remover os feridos. Será um desastre, " conclui.

O futuro incerto

A presença de delegações iemenitas na Suécia foi facilitada por duas medidas de fortalecimento da confiança: a retirada no início de dezembro de 50 rebeldes feridos para Omã e um acordo preliminar de troca de prisioneiros. Ontem, o primeiro-ministro do Iêmen, Maid Said, disse que um acordo sobre Hodeida seria improvável devido "às limitações de tempo".

Essa manhã, poucas horas antes do encerramento oficial das discussões, as primeiras desde 2016 e que duraram uma semana em Rimbo, ao norte de Estocolmo, as duas delegações rivais ainda não haviam conseguido superar todas as suas diferenças. Os mediadores da ONU, no entanto, continuavam "positivos".

Segundo a ministra das Relações Exteriores sueca, Margot Wallström, o resultado das negociações de Estocolmo deverá ser apresentado ao Conselho de Segurança da ONU nessa sexta-feira. "A comunidade internacional continuará a fazer do Iêmen uma prioridade", afirmou.

As imagens de devastação provocadas pelos ataques aéreos da coalizão governamental e pela crise humanitária colaboraram para convencer os principais poderes mundiais da necessidade de acelerar a solução do conflito.

Um porta-voz do Programa Mundial de Alimentos da ONU saudou os resultados considerados como "sinais encorajadores" e "convocou os dois lados para continuarem o diálogo". A previsão é de que ambos sentem-se novamente para negociar no final de janeiro.

Em Washington, o Senado americano enviou nessa quarta-feira (12) uma nova advertência ao presidente Donald Trump e à Arábia Saudita, permitindo a votação de uma resolução para proibir qualquer apoio militar a Riad na guerra no Iêmen.

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