Cúpula da OEA evidencia divergências entre Brasil e EUA
Analistas ouvidos pela RFI acreditam que a ausência do chanceler brasileiro Celso Amorim à cúpula da Organização dos Estados Americanos em Lima, no Peru, é um sinal claro das fortes divergências entre o Brasil e os Estados Unidos. Os 33 países da OEA estão reunidos até esta terça-feira em Lima, no Peru, para a Assembleia Geral da organização.
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Os participantes da cúpula concordaram em criar um grupo de especialistas para avaliar a reintegração de Honduras à entidade. O governo hondurenho espera que o grupo trabalhe com neutralidade, segundo declarou, na noite de segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores do país, Mario Canahuati. Honduras foi expulso há 11 meses da OEA, em represália pelo golpe de estado de junho de 2009 que destituiu o presidente Manuel Zelaya. O grupo deve apresentar uma primeira recomendação no final de julho, que vai servir de base para uma decisão oficial.
A reintegração de Honduras divide os integrantes da OEA. Os Estados Unidos, por exemplo, reconhecem o governo do presidente Porfírio Lobo, eleito em novembro do ano passado, e defendem o retorno do país à OEA, como reiterou ontem a secretária de Estado norte-americana, Hillary Clinton.
Já o Brasil, e outros países latino-americanos, consideram a eleição de Lobo ilegítima e exigem condições para a volta de Honduras ao bloco. Os Estados Unidos também defendem a aplicação de novas sanções contra o Irã, outra posição divergente da brasileira.
Divergências
João Alencar, em colaboração para a RFI
Para o cientista político norte-americano e professor da Universidade de Middlebury, Jeffrey Cason, este é o pior momento da relação entre Washington e Brasília nos últimos anos. Segundo ele, as discordâncias quanto às eleições em Honduras podem até ser resolvidas a médio ou longo-prazo. Mas o compromisso mediado pelo Brasil e Turquia com o Irã afeta diretamente um assunto chave para a política externa norte-americana. Um impasse difícil de ser resolvido, na opinião de Cason.
No entanto, a relação política entre os dois países não deve, no entanto, provocar atritos econômicos entre Brasil e Estados Unidos, acredita o presidente emérito do Instituto Inter-American Dialogue, Peter Hakim. Mesmo sem consequências econômicas a curto-prazo, os dois especialistas lamentam, o que eles classificam como "uma falta de diálogo entre os dois países".
O Itamaraty nega que a ausência do ministro Celso Amorim esteja relacionada a divergências com os Estados Unidos. Em entrevista à Rádio França Internacional, um representante do ministério de Relações Exteriores disse que Amorim não pôde comparecer à reunião devido a outros compromissos. O Brasil está sendo representado pelo vice-chanceler, Antônio Patriota.
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