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Berlinale/Brasil/Temer

Na Berlinale, Marcelo Gomes lê carta de protesto de cineastas contra Temer

Os cineastas brasileiros aproveitaram a coletiva de imprensa de maior visibilidade no Festival de Cinema de Berlim para enviar uma mensagem ao governo brasileiro. O diretor Marcelo Gomes, que compete ao Urso de Ouro com "Joaquim", leu, em inglês, nesta quinta-feira (16), uma carta aberta expressando a preocupação da classe cinematográfica sobre a continuidade do apoio ao audiovisual nacional.

Marcelo Gomes lê protesto contra Temer durante entrevista coletiva do filme "Joaquim" na Berlinale
Marcelo Gomes lê protesto contra Temer durante entrevista coletiva do filme "Joaquim" na Berlinale RFI / Letícia Constant
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Enviada especial a Berlim

Solidários, os outros 11 diretores presentes em Berlim ficaram na entrada da sala de imprensa logo após a projeção de "Joaquim". A cineasta Julia Murat explicou que o ato foi organizado por cerca de 40 produtores, cineastas e atores no Brasil e em Berlim. A carta tem mais de 200 assinaturas do mundo inteiro, e explica como a classe cinematográfica brasileira quer defender a Ancine - Agência nacional do cinema, ameaçada pela política atual do governo Temer. "Marcelo Gomes está na competição e a gente achou que esse era o melhor momento para ler essa carta. Ele teve essa delicadeza, essa abertura de fazer isso, o comprometimento político de fazê-lo, agora, este é, essencialmente, um ato de todo mundo", explica Julia.

Vejam abaixo a carta que foi lida por Marcelo Gomes à imprensa internacional:

"Estamos vivendo uma grave crise democrática no Brasil. Em quase um ano sob esse governo ilegítimo, direitos da educação, saúde, trabalhistas foram duramente atingidos. Junto com todos os outros setores, o audiovisual brasileiro, especialmente o autoral, corre sério risco de acabar. A diretoria da Ancine (Agência nacional de cinema) está agora em processo de substituição de 2 de seus 4 diretores, que serão anunciados pelo ministério do atual governo.

O Brasil é formado por uma diversidade étnica-racial-cultural-religiosa e de gênero gigantesca. E a consciência dessa pluralidade tem se mostrado peça-chave na hora de planejar os programas educacionais, econômicos, culturais e de saúde do nosso país.

Na política do audiovisual brasileiro, não foi diferente. Nos últimos anos, a Ancine tem direcionado suas diretrizes observando com atenção esses muitos Brasis. Ampliou o alcance dos mecanismos de fomento, que hoje atingem segmentos e formatos dos mais diversos, do cinema autoral ao videogame; das séries de TV aos filmes com perfil comercial: do desenvolvimento de roteiro à distribuição.

O resultado é visível. O ano de 2017 começou com a expressiva presença de filmes brasileiros nos três dos principais festivais internacionais, totalizando 27 participações em Sundance, Rotterdam e Berlim. Não chegamos a esse patamar histórico sem planejamento, continuidade e diálogo entre Ancine e a classe realizadora, principalmente por meio de duas ações de fomento: a criação de uma lei que obriga os canais de TV a cabo a exibirem 3h30 de programação brasileira e a criação do Fundo Setorial do Audiovisual, que investe em várias linhas, em todos os tipos de audiovisual em qualquer fase de produção.

Entre as políticas do Fundo Setorial, gostaríamos de destacar, em especial, as políticas regionais, o edital de TV pública, o edital voltado para filmes de arte com perfil internacional, os editais e acordos de coprodução internacional.

As ações implementadas incidiram de forma positiva no setor audiovisual, que cresce 8,8% ao ano. Uma taxa superior à média do conjunto dos outros setores da economia brasileira, representando um valor adicionado de 0,54% na economia nacional. Esse percentual é maior do que o gerado pela indústria farmacêutica, de produtos eletrônicos e de informática, por exemplo.

O percurso trilhado nos últimos anos posiciona a Ancine e o Setor Audiovisual em possibilidade de aprimoramento de suas ações, com disposição para o diálogo e desenvolvimento de instrumentos capazes de proporcionar, em um curto espaço de tempo, um programa de ações afirmativas com recorte de raça e gênero em consonância com a pauta global que impõe a necessidade de aprimoramento e ajuste do setor audiovisual para garantia de maior representatividade e participação da população negra e das mulheres. E acreditamos, ainda, que deve ser incrementada uma política de formação de público, artística e técnica para que novas pessoas possam se qualificar e atuar em toda a cadeia da produção audiovisual. Além de uma política de acervo, para garantir condições para manutenção e acesso ao público da grande produção audiovisual brasileira, realizada ao longo de quase um século de atividade.

Tudo que se alcançou até aqui é fruto de um grande esforço do conjunto de agentes envolvidos entre Ancine, produtores, realizadores, distribuidores, exibidores, programadores, artistas, lideranças, poder público, entre outros. Acima de tudo, queremos garantir que toda e qualquer mudança ou aperfeiçoamento nas políticas públicas do audiovisual brasileiro sejam amplamente debatidas com o conjunto do setor e com toda a sociedade.

Assim, pedimos às instituições, produtores e realizadores de todo o mundo que apoiem a luta e a manutenção de todos os tipos de audiovisual no Brasil. Defendemos aqui a continuidade e o incremento dessa política pública."

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