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Berlinale/Cinema

“É uma estupidez cortar o fluxo do cinema brasileiro”, diz Kleber Mendonça em debate na Berlinale

O diretor Kleber Mendonça Filho faz parte do júri da 70ª edição do Festival de Cinema de Berlim. Paralelamente, ele participou na tarde desta terça-feira (25) de um debate no qual o tema principal era a evolução do cinema brasileiro no contexto político atual, com transformações que afetam diretamente o setor audiovisual. Em entrevista exclusiva à RFI, ele falou sobre a importância da 7ª arte como vitrine de um país e sobre os riscos que cortes futuros podem representar.

Kleber Mendonça Filho (e) entrevistado em Berlim por Vincenzo Bugno, diretor do World Cinema Fund
Kleber Mendonça Filho (e) entrevistado em Berlim por Vincenzo Bugno, diretor do World Cinema Fund RFI
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Enviado especial a Berlim

O debate faz parte do Talents, programa organizado pela Berlinale, que questiona este ano o papel do coletivo como elemento de transformação e a importância do cinema nessa dinâmica. Mendonça Filho foi entrevistado por Vincenzo Bugno, diretor do World Cinema Fund, que intercalou as perguntas com projeções de clipes dos filmes do brasileiro, usados com fio condutor da conversa, intitulada "Inside Out: Cinema on the verge".

Kleber explicou que cada um de seus projetos representava um momento específico do Brasil. “O som ao redor” marcava uma certa estabilidade no país, enquanto “Aquarius” coincidia com uma mudança nas mentalidades. “Esse filme foi uma resposta natural ao tom do que estava acontecendo naquele momento em que o Brasil estava começando a abandonar a estrada da democracia com o golpe”, disse o diretor à RFI.

Em seguida, com “Bacurau”, o tom foi mais violento, também em resposta ao contexto político e social brasileiros. Para ele, aliás, “Bacurau” “não é um filme de rebelião, e sim de reação” às transformações, que vão muito além do Brasil. “Estamos em um mundo onde Donald Trump é presidente dos Estados Unidos e onde a Inglaterra quer sair da Europa. São todas as questões que fazem parte do trabalho que você faz como escritor e como cineasta”, explica.

Sobre a situação atual do cinema brasileiro, Kleber disse durante o debate estar preocupado com o futuro das pequenas produtoras, que fecham suas portas por falta de dinheiro. Ou que são obrigada a procurar parceiros como Amazon ou Netflix. “Não tenho nada contra essas plataformas, mas é uma pena que, para alguns, essa seja a única solução”.

Questionado sobre o impacto a médio e longo prazo dos cortes de orçamento anunciados nos últimos meses, o diretor ressaltou a importância da arte para a imagem do Brasil. “A melhor representação de um país, do ponto de vista da representatividade de indústria e de cultura é a expressão artística. Filmes, livros e músicas viajam praticamente de maneira sem fronteiras. E é isso que tem acontecido com o cinema brasileiro”, aponta.

Cinema como soft power

O diretor é consciente do soft power que representa a cinema. “Desde maio eu estou viajando. Já fui para vinte países, o filme [“Bacurau”] é sempre muito bem recebido e eu sou muito bem recebido como representante do Brasil. Exatamente como um diplomata, talvez com um alcance até maior, por causa do filme e por causa das situações de mídia onde eu e Juliano Dornelles [co-diretor], e qualquer realizador ou realizadora brasileira, se encontram”, relata.

“Aqui em Berlim temos um filme na competição, do Marco Dutra e do Caetano Gotardo, e um total de 19 filmes, entre brasileiros e coproduções, que mostram exatamente o fim de um ciclo muito rico, que surgiu de um período importantíssimo de apoio inteligente à produção, onde basicamente a imagem do Brasil é projetada, não somente no país, mas também fora do Brasil. E é uma estupidez cortar esse fluxo, pois isso é bom para o Brasil, culturalmente e como indústria e geração de emprego”, finaliza.

Karim Ainouz e Cate Blanchett falaram de cinema engajado

Na véspera, o programa Talents reuniu em uma mesa redonda a atriz autraliana Cate Blanchett, a diretora iraniana Maryam Zaree e o diretor brasileiro Karim Ainouz. Cada um à sua maneira abordou o engajamento social de seus trabalhos recentes.

A atriz Cate Blanchett ao lado da ativista argelina Nardjes Asli, do diretor Karim Aïnouz, e da diertora Maryam Zaree.
A atriz Cate Blanchett ao lado da ativista argelina Nardjes Asli, do diretor Karim Aïnouz, e da diertora Maryam Zaree. © Peter Himsel, Berlinale 2020

Cate Blanchett, além de uma carreira hollywoodiana é embaixadora para os Diretos Humanos da ONU e acaba de produzir "Stateless", uma série sobre política migratória. Já Maryam Zaree falou de prisioneiros políticos no Irã, tema que faz parte de seus projetos recentes.

Ainouz trouxe este ano para a Berlinale o documentário “Nardjes A.”, filme no qual acompanha 24 horas na vida de uma militante na Argélia. Uma forma, segundo o brasileiro, de mostrar como a nova geração desse país, onde nasceu seu pai, luta em busca de democracia.

A Berlinale vai até 1° de março.

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