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Deputado francês foi mais bem tratado por Bolsonaro que chanceler, diz imprensa francesa

A imprensa francesa analisa nesta quinta-feira (10) o encontro do deputado da direita radical francesa Nicolas Dupont-Aignan com Jair Bolsonaro. O candidato à eleição presidencial francesa de 2022 foi mais bem tratado pelo presidente brasileiro que o chanceler da França, Jean-Yves Le Drian, em 2019.

O presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o deputado Nicolas Dupont-Aignan no Palácio do Planalto, Brasília, em 9 de dezembro de 2020.
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro e o deputado Nicolas Dupont-Aignan no Palácio do Planalto, Brasília, em 9 de dezembro de 2020. AFP - HANDOUT
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O deputado francês está no Brasil em uma missão parlamentar para a divulgação de um relatório sobre a poluição dos oceanos. Ele foi recebido nesta quarta-feira (9), em Brasília, pelo presidente Jair Bolsonaro, após ter se encontrado com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e com o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Dupont-Aignan disse à AFP "ter matado dois coelhos com uma cajadada só" ao se referir a suas conversas políticas.

O jornal Le Parisien destaca que Dupont-Aignan justificou o encontro de 15 minutos em que conheceu o presidente do Brasil dizendo que "fala com todo o mundo". A imprensa francesa ressalta que a visita aconteceu em um contexto de relações bilaterais tensas e que o político francês "soberanista" estima ser necessário "reaquecer as relações franco-brasileiras", indica Le Figaro. "Cumpro meu dever de patriota", disse o candidato às presidenciais francesas de 2022. Dupont-Aignan é praticamente o primeiro político francês a visitar o Brasil em um ano e meio.

As relações entre Paris e Brasília não se recuperaram da polêmica violenta entre os presidentes Emmanuel Macron e Jair Bolsonaro em agosto de 2019, provocada pelos gigantescos incêndios que devastaram a Amazônia. "Fico muito triste que França e Brasil estejam em um período de distanciamento", declarou Dupont-Aignan. O Brasil "é um grande país para nós e se eu puder contribuir (...) para um diálogo, considero importante". "Acho que nossa diplomacia francesa não se orienta o suficiente para a América Latina", acrescentou.

Le Drian

Dupont-Aignan recebeu um tratamento muito melhor do que o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Yves Le Drian, lembra a imprensa. Em julho de 2019, Bolsonaro cancelou um encontro bilateral com o chanceler francês, que fazia um giro pela América Latina, para ir ao cabeleireiro. Na ocasião, Le Drian ironizou a "urgência capilar" do presidente.

A visita de Dupont-Aignan foi organizada pelo embaixador do Brasil na França, Luís Fernando Serra, próximo de Bolsonaro. O deputado conservador garante que não foi ao Brasil "fazer uma viagem política, e sim uma viagem parlamentar". Ele explica que as personalidades brasileiras quiseram vê-lo. Mas para a imprensa francesa, o encontro com o presidente de extrema direita do Brasil faz parte da estratégia de campanha do deputado "soberanista" para 2022. "O candidato presidencial Dupont-Aignan tenta forjar uma estatura internacional", acredita o jornal "20 Minutes".

O "influente" Eduardo Bolsonaro

O político francês também almoçou com o chanceler Ernesto Araújo e se reuniu com o deputado Eduardo Bolsonaro, apontado pela mídia francesa como "o influente". "Eu o encontrei porque ele é presidente da Comissão de Relações Exteriores (da Câmara) e por eu ser membro dessa comissão" na Assembleia Nacional francesa, explicou. Os dois conversaram sobre "o Mercosul, as relações com a França, a questão da Amazônia".

Todos os sites e diários franceses reproduzem o tuíte postado na noite de quarta-feira por Eduardo Bolsonaro. O deputado brasileiro publicou fotos do encontro com o presidente do partido "Debout la France" ("Levante-se França", em tradução livre para o português) e elogiou o francês, que "obteve quase 5% na última eleição presidencial". "Partilhamos dos mesmos valores, enxergamos qualidades no nacionalismo e somos contra o globalismo", escreveu Eduardo.

Ex-aliado de Marine Le Pen

Dupont-Aignan disputou as eleições presidenciais de 2012 e 2017. Na última disputa, ele se aliou à candidata da extrema direita Marine Le Pen entre o primeiro e o segundo turno, contra Emmanuel Macron. Na época, ele fechou um acordo com Marine Le Pen para ser seu primeiro-ministro, se ela vencesse a votação.

Parte de seus eleitores não aderiram a essa aliança e, agora, Dupont-Aignan pretende concorrer novamente para evitar um "novo duelo entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen" em 2022. Ele foi um dos primeiros a lançar sua candidatura, em setembro deste ano, mas seu partido enfrenta um racha.

Em novembro, o soberanista perdeu seus dois principais colaboradores – Jean-Philippe Tanguy, porta-voz do partido, e Alexandre Loubet, diretor de comunicação. Ambos abandonaram Dupont-Aignan alegando "graves divergências de estratégia", segundo a revista Challenges.

Debandada no partido

Depois de trabalharem juntos durante oito anos, os dois assessores apontaram "ambiguidades" no discurso de Dupont-Aignan, que estaria "sabotando as tentativas de formar uma força patriótica" ampla, ou seja, incluindo a sigla de Marine Le Pen.

Dupont-Aignan nega dificuldades. Mas, uma semana depois da saída do porta-voz e do diretor de comunicação, uma das quatro vice-presidentes do "Debout La France" – Anne-Sophie Frigout – pediu demissão. O deputado se referiu à crise como "uma tempestade num copo d'água", mas reconheceu, em entrevista à revista Valeurs Actuelles, que seus ex-colaboradores haviam migrado para a equipe de Marine Le Pen.

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