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Chanceler francesa vai ao Brasil se reunir com Lula e relançar relações abaladas por governo Bolsonaro

A ministra das Relações Exteriores da França, Catherine Colonna, realizará uma visita ao Brasil nesta quarta (8) e quinta-feira (9), e se reunirá com o presidente Lula. Segundo fontes da diplomacia francesa, o objetivo é restabelecer as relações entre os dois países – estremecidas por uma série de incidentes durante o governo Bolsonaro – e preparar uma futura viagem do presidente Emmanuel Macron ao Brasil.

A ministra francesa das Relações Exteriores, Catherine Colonna, em foto de 30 de janeiro de 2023.
A ministra francesa das Relações Exteriores, Catherine Colonna, em foto de 30 de janeiro de 2023. AFP - STEPHANE DE SAKUTIN
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Daniella Franco, da RFI

Colonna embarcou na manhã desta terça-feira (7) em direção ao Brasil. A chefe da diplomacia francesa chegará em Brasília, onde tem uma série de compromissos. O principal deles é um encontro com Lula, além de uma reunião com o ministro brasileiro das Relações Exteriores, Mauro Vieira. Durante o dia, Colonna também se encontrará com a ministra brasileira do Meio Ambiente, Marina Silva.

Na quinta-feira, a ministra francesa estará em São Paulo – uma escolha pessoal, por ser “o centro econômico e financeiro do Brasil”, segundo fontes da diplomacia da França. Na capital paulistana, Colonna se reunirá com o governador Tarcísio de Freitas. Também encontrará com Djamila Ribeiro no Espaço Feminismos Plurais, fundado pela filósofa e ativista no ano passado.

Na agenda da ministra ainda estão compromissos com “personalidades que trabalham em instituições democráticas brasileiras, especialmente instituições jurídicas”, encontros com cientistas franceses e brasileiros que desenvolvem pesquisas sobre a Amazônia e líderes de empresas francesas que atuam no Brasil.

Segundo o Quai d’Orsay, como também é chamado o Ministério das Relações Exteriores da França, o objetivo principal é “relançar as relações bilaterais com esse grande parceiro que é o Brasil”, após várias conversas entre Macron e Lula, que esteve na França em 2021 – uma visita com ares de chefe de Estado.

O líder francês foi um dos primeiros a felicitar o petista após suas vitória no segundo turno da eleição, no último 31 de outubro. O último contato entre entre eles ocorreu em 26 de janeiro, quando conversaram por telefone durante mais de uma hora. O chefe de Estado francês ratificou seu apoio a Lula após a invasão das sedes dos Três Poderes em Brasília, em 8 de janeiro.  

Desafios democráticos

Nesta primeira parte da visita, em Brasília, Colonna deve se concentrar em objetivos políticos. Um dos temas essenciais de interesse da ministra são os desafios democráticos, “um mês após os ataques em Brasília”, indicaram fontes diplomáticas. Colonna e Vieira devem realizar juntos uma entrevista coletiva. Em seguida, a ministra dará prioridades às questões ambientais e a luta contra o aquecimento global, "na perspectiva do One Forest Summit, das próximas COPs e da Cúpula da Amazônia".

O segundo dia da visita de Colonna, em São Paulo, terá um espectro mais econômico, já que a França é terceiro investidor estrangeiro do Brasil, com € 32 bilhões de investimentos. O Quai d’Orsay também ressalta que a França é primeiro empregador estrangeiro no Brasil, onde 500 mil pessoas trabalham para empresas francesas. Por isso, nesta segunda etapa da viagem, Colonna deve priorizar a cooperação econômica entre os dois países.

O encontro com Tarcísio de Freitas também é descrito como um ponto alto da visita da ministra a São Paulo, já que em março o governador virá a Paris para assinar projetos de cooperação científica. A assessoria da ministra também destaca a importância da reunião de Colonna com Djamila Ribeiro para conversar sobre assuntos como direitos das mulheres e racismo, “questões particularmente deixadas de lado pelo último governo no Brasil”.

Na pauta desses dois dias de Colonna ao Brasil estão também o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, a crise humanitária dos yanomami e a guerra na Ucrânia.

A assessoria de Colonna confirmou à RFI que a viagem da chanceler também tem o objetivo de preparar a visita de Macron ao Brasil. A viagem ainda não tem data prevista, mas que deve ocorrer neste ano. 

Relações estremecidas desde 2019

A última visita de um ministro das Relações Exteriores da França ao Brasil ocorreu em julho de 2019. Na época, Jean-Yves Le Drian se encontrou com representantes de ONGs brasileiras, irritando Bolsonaro. O então presidente brasileiro cancelou no último momento a reunião com o chanceler, alegando ter outros compromissos. Em seguida, Bolsonaro postou fotos nas redes sociais cortando o cabelo.

Um mês depois, as relações entre a França e o Brasil esfriaram de vez, quando, no Twitter, Macron convocou os países do G7 a discutirem as queimadas na Amazônia. Ofendido, Bolsonaro acusou o presidente francês de ser “sensacionalista” e de “instrumentalizar uma questão interna do Brasil e outros países amazônicos para ganhos políticos pessoais”. No mesmo dia, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, publicou um vídeo chamando Macron de “idiota”. Já o ministro brasileiro da Educação na época, Abracham Weintraub, se referiu ao presidente francês como “cretino”.

A troca de farpas engrossou quando um apoiador de Bolsonaro publicou uma foto de Macron com a primeira-dama francesa Brigitte, junto a uma foto do presidente brasileiro e sua esposa Michelle Bolsonaro. A postagem sugeria que o líder francês sentia inveja de Bolsonaro devido à aparência física e a diferença de idade entre as duas mulheres. “Não humilha, cara”, respondeu o então presidente brasileiro, em tom de chacota. O comentário foi apagado posteriormente. 

Jair Bolsonaro endossou um comentário de um internauta no Facebook, que zombava da mulher de Macron
Jair Bolsonaro endossou um comentário de um internauta no Facebook, que zombava da mulher de Macron Reprodução

Macron tomou conhecimento da resposta, que considerou “extremamente desrespeitosa”. As ofensas não terminaram por aí. Dias depois, o então ministro brasileiro da Economia Paulo Guedes apoiou a atitude da cúpula do governo, chamando Brigitte Macron de “feia”. Os sucessivos incidentes levaram Tiphaine Auzière, filha da primeira-dama francesa a defender publicamente a mãe. Em um vídeo no Twitter, em setembro de 2019, a advogada evocou os ataques das autoridades brasileiras contra a mãe e fez um apelo em prol da luta contra a “misoginia ordinária”.

O episódio gerou indignação de brasileiras que vivem na França, que lançaram um movimento de apoio à Brigitte. Sensibilizada pela iniciativa, a primeira-dama francesa redigiu uma carta aberta agradecendo as manifestações em seu favor.

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