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Sonda europeia Juice decola com sucesso e vai pesquisar se é possível viver em luas de Júpiter

A sonda espacial europeia Juice foi lançada com sucesso nesta sexta-feira (14), a bordo de um foguete Ariane 5, rumo a Júpiter e às suas luas geladas. A missão visa procurar ambientes favoráveis a formas de vida extraterrestre. O foguete decolou do centro espacial europeu em Kourou, na Guiana Francesa, às 09h14 pelo horário de Brasília, 24 horas depois de seu lançamento ter sido adiado devido ao risco de tempestades.

 A sonda espacial europeia Juice foi lançada com sucesso nesta sexta-feira (14), a bordo de um foguete Ariane 5, rumo a Júpiter e às suas luas geladas com a missão de procurar ambientes favoráveis a formas de vida extraterrestre.
A sonda espacial europeia Juice foi lançada com sucesso nesta sexta-feira (14), a bordo de um foguete Ariane 5, rumo a Júpiter e às suas luas geladas com a missão de procurar ambientes favoráveis a formas de vida extraterrestre. AFP - JODY AMIET
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Com informações do enviado especial da RFI a Kourou, Simon Rozé, e colaboração de Jonas Duris

O lançamento da sonda europeia Juice estava inicialmente previsto para a quinta-feira (13), no mesmo horário, mas foi adiado para esta sexta-feira por razões meteorológicas.

“É muito legal! Mal posso acreditar!” A poucos metros da plataforma de lançamento, no calor quente e úmido da Guiana Francesa, Manuela Baroni, aguardava anciosa o momento. Vestida com a camisa polo com o emblema da missão, a engenheira da Agência Espacial Europeia (ESA) tem os olhos que brilham. “Desde criança, eu olhava para as estrelas, e agora vou ter uma parte de mim voando até Júpiter!” Manuela Baroni é responsável pela montagem, integração e pelos testes da sonda. Ela é a responsável pela segurança de cada etapa: da construção ao lançamento de Juice.

A possibilidade de uma missão europeia a Júpiter começou a ser estudada a partir de 2007. Na época, o maior planeta do Sistema Solar já tinha sido alvo da Missão Galileo da Nasa, e a agência americana preparava uma segunda expedição, com a sonda Juno.

Em busca de ambientes habitáveis

Juice é o acrônimo de “Jupiter Icy Moons Explorer”, ou seja, o explorador das luas geladas de Júpiter.

Além do estudo do planeta em si, os cientistas estão curiosos para descobrir suas luas. Júpiter possui uma centena de satélites naturais. Entre eles, três interessam mais: Europa, Ganímedes e Calisto. “O objetivo é estudar a habitabilidade destas luas”, explicou Francis Rocard, responsável pelos programas de exploração do sistema solar da agência espacial francesa (Cnes). São mundos completamente gelados: “Temos provas, ou pelo menos argumentos fortes, para pensar que há um oceano líquido debaixo de sua crosta de gelo. Onde quer que haja água líquida no Sistema Solar, surge a questão da vida. Vamos então estudar a habitabilidade.”

“Mas temos que fazer a diferença entre a presença de vida e a habitabilidade”, aponta Ines Belgacem, pesquisadora da Diretoria de Ciência da ESA. “Com Juice, não procuramos qualquer forma de vida, tentamos saber se essas luas já tiveram ou ainda têm condições de habitabilidade. Nos baseamos em alguns critérios.” O primeiro desses critérios é a presença de água líquida, o que foi estabelecido. Depois, esses mundos precisam possuir uma fonte de energia.

Na área da energia, a lua Europa corresponde ao critério: “Sabemos que é ativa”, detalha Ines Balgacem. “Sua superfície é jovem. Vamos procurar nela produtos químicos específicos, os CHNOPS: carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e enxofre. Esses são os elementos de base para construir as moléculas orgânicas e o que pensamos ser a vida no fundo dos oceanos. Sabemos que há energia em Europa e há dúvidas em relação a Ganímedes. Já em Calisto não há.”

Durante a primeira parte de sua missão, a sonda sobrevoará esses mundos várias vezes na tentativa de caracterizá-los, antes de orbitar Ganímedes. “Com Juice, estamos na primeira fase de exploração dessas luas geladas”, continua Francis Rocard. “Depois, em função dos resultados, poderemos pensar no que vem, com uma missão que pousaria nos satélites. Mas isso será muito mais complicado tecnicamente.”

Sobrevoo das luas

Para obter esses resultados, foi necessário desenvolver uma nave espacial polivalente capaz de resistir ao terrível ambiente desses mundos, expostos à radiação energética emitida pelo gigante gasoso. Na primeira fase de sua missão, Juice vai somente sobrevoar as luas: Europa duas vezes, Calisto 21, e 12 vezes para Ganímedes, antes da sonda se colocar na órbita desse satélite.

“Haverá um foco muito interessante nessa lua”, diz Olivier Witasse, cientista-chefe da ESA nessa missão. “É a maior do sistema solar, até maior que Mercúrio. É também a única com um campo magnético interno, e há enormes quantidades de água líquida.” Ganímedes também tem um oceano de água líquida abaixo de sua superfície gelada. "O oceano fica a cerca de 100 km abaixo da superfície", detalha Inès Belgacem. "Não estamos realmente seguros de como eles interagem. Sabemos que primeiro há a camada de gelo, depois há oceano, e em seguida, gelo novamente, mas desta vez em alta pressão. Finalmente, há um manto rochoso. É a interação entre estes ambientes que queremos entender melhor, como um habitat potencial, mas também para o próprio sistema.”

“Esta missão, é geralmente algo que vemos nos filmes!”, compara Manuela em Kourou. Após anos do desenvolvimento, o Dia D chegou. No centro espacial da Guiana, o foguete foi associado ao Ariane 5 para a decolagem. “A campanha de lançamento ocorreu perfeitamente. Tivemos alguns problemas, mas nada de grave. Ver nosso satélite no topo do foguete, é algo de muito forte. É uma história que se acaba: construímos a sonda, vamos lançá-la, mas também é uma história totalmente diferente que começa para os cientistas.”

Uma janela de lançamento muito rigorosa

Há várias etapas importantes foram respeitadas antes do lançamento, o 116º do Ariane 5 e o penúltimo antes da “aposentadoria” do foguete e da chegada do Ariane 6 em 2026. Juice dá continuidade à tradição das grandes missões científicas lançadas pelo foguete europeu, que culminou com o Telescópio Espacial James-Webb, em 25 de dezembro de 2021.

“Há uma particularidade", observa Daniel de Chambure, chefe do Ariane 5 para a ESA em Kourou. "Temos uma janela de lançamento de 0 segundos". Isto significa que se ultrapassarmos esta janela por um segundo sequer, temos de adiar como aconteceu na quinta-feira.

O Ariane 5, de 55 metros de altura, subiu ao céu da selva da Guiana, movido por seu motor Vulcain II e por dois propulsores de foguetes sólidos. O foguete levou apenas 27 minutos e 44 segundos para colocar Juice no espaço a caminho de Júpiter. A sonda levará oito anos para chegar ao seu destino. Ariane 5 não é capaz de impulsionar Juice diretamente para Júpiter. Por isso, a sonda usará uma rota intermediária: passará pela Terra três vezes e por Vênus uma vez, a fim de se beneficiar da força gravitacional desses planetas. Isso aumenta a velocidade da sonda, permitindo que ela seja impulsionada em direção ao sistema de Júpitar.

A chegada está prevista para julho de 2031. Somente então, as operações científicas serão iniciadas e deverão durar pelo menos quatro anos. Esta será a primeira vez que uma sonda será colocada na órbita de uma lua diferente da Terra. Juice finalmente terminará sua missão em uma queda controlada em Ganímedes. Antes disso, ela terá fornecido elementos-chave e muitas peças do quebra-cabeça para responder à eterna questão do possível aparecimento da vida em outro lugar do Sistema Solar.

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