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Estudo revela degelo na Groenlândia há milhares de anos e aponta riscos para regiões costeiras

Uma camada de gelo com um quilômetro e meio de espessura desapareceu na Groenlândia há cerca de 416.000 anos, durante um período de aquecimento natural moderado. O resultado foi o aumento do nível do mar a limites que seriam atualmente catastróficos para as regiões costeiras. A conclusão foi divulgada em um estudo publicado nesta quinta-feira (20), na revista científica Science.

Vista Groeland desde un satélite de la NASA, en 2012
Vista Groeland desde un satélite de la NASA, en 2012 NASA/AFP/Archivos
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A pesquisa mostra que a maior ilha do mundo pode ser muito mais vulnerável do que se pensava às mudanças climáticas causadas pelo homem. "Se queremos entender o futuro, precisamos entender o passado", disse Paul Bierman, um dos autores do estudo e cientista da Universidade de Vermont, nos Estados Unidos.

O estudo foi baseado em um núcleo de gelo extraído 1.390 metros abaixo da superfície do noroeste da Groenlândia, por cientistas de Camp Century, uma base militar secreta da década de 1960.

O tubo de terra e rocha, com 3,6 metros de comprimento, ficou esquecido em um freezer, até ser redescoberto em 2017. Os cientistas ficaram surpresos ao descobrir que ele continha não apenas sedimentos, mas também folhas e musgos, o que evidencia a existência de uma paisagem sem gelo.

Técnicas recentes

Embora os pesquisadores tenham ficado sem acesso à amostra durante décadas, Bierman afirmou que, de certa forma, isso foi "providencial", já que técnicas mais precisas usadas para datar o material são muito recentes.

Entre elas, destaca-se a "datação por luminescência", que permitiu aos cientistas determinar a última vez que o sedimento enterrado foi exposto à luz solar.

"Conforme o sedimento é enterrado, a radiação de fundo do solo preenche pequenos orifícios ou imperfeições de minerais como quartzo ou feldspato, acumulando ao longo do tempo o que chamamos de sinal de luminescência", explicou Drew Christ, coautor do estudo.

Em um quarto escuro, os cientistas cortaram tiras internas do núcleo de gelo e as expuseram à luz azul-verde ou infravermelha, liberando os elétrons presos e mostrando a última vez que estiveram expostos à luz. Isso apaga o sinal de luminescência.

"A única maneira de fazer isso em Camp Century é remover um quilômetro e meio de gelo", explicou Tammy Rittenour, outra coautora da pesquisa, da Universidade Estadual de Utah. "Além disso, para ter plantas, é preciso ter luz".

A datação por luminescência forneceu o ponto final do período sem gelo, enquanto o ponto inicial veio de outra técnica. Dentro do quartzo encontrado no núcleo de Camp Century, acumulam-se formas raras - chamadas isótopos - dos elementos berílio e alumínio, quando o sedimento é exposto ao céu e aos raios cósmicos.

Ao observar a proporção entre as formas normais desses elementos e os isótopos raros, os cientistas puderam deduzir quanto tempo as rochas estiveram na superfície e quanto tempo permaneceram enterradas.

Eles descobriram que os sedimentos ficaram expostos por menos de 14.000 anos, o que significa que esse foi o tempo em que a área ficou sem gelo.

Risco para litorais  

O núcleo de Camp Century foi retirado a apenas 1.200 quilômetros do Polo Norte e seu estudo mostrou que toda a região teria sido coberta por vegetação.

Isso ocorreu em um período de aquecimento natural chamado período interglacial, quando as temperaturas eram semelhantes às atuais, cerca de 1 a 1,5ºC mais quentes do que na era pré-industrial.

A simulação feita pela equipe de pesquisa mostrou que o derretimento da camada de gelo teria causado um aumento no nível do mar entre 1,5 e 6 metros naquela época.

Isso sugere que todas as regiões costeiras do mundo, lar de várias populações mundiais, correm o risco de ficar submersas nos próximos séculos.

(Com informações da AFP)

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