Urso de Berlim vai para filme de Mati Diop sobre devolução de obras africanas saqueadas por franceses
A 74ª edição do Festival de Berlim concedeu, neste sábado (24), o Urso de Ouro ao documentário "Dahomey", da diretora franco-senegalesa Mati Diop, que narra a restituição ao Benin de 26 obras saqueadas pelas tropas coloniais francesas em 1892. A paulista Juliana Rojas venceu a mostra paralela Encounters, com o filme "Cidade; Campo".
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O júri, presidido pela atriz Lupita Nyongo'o, a primeira pessoa negra a ocupar o posto, manteve-se fiel à tradição política do festival.
"Podemos esquecer o passado, um peso desagradável que nos impede de evoluir, ou podemos assumir a responsabilidade, utilizá-lo para avançar", declarou Mati Diop ao receber o prêmio.
"Como franco-senegalesa, cineasta afrodescendente, escolhi estar com quem se nega a esquecer, com quem rejeita a amnésia como método", acrescentou.
"Dahomey" narra a restituição, em novembro de 2021, ao Benin, de 26 obras saqueadas pelas tropas coloniais francesas.
Diop já havia recebido o "Grand Prix" em Cannes em 2019 por seu filme "Atlantique", que narra a história de um grupo de operários que sai para o mar em busca de uma vida melhor em outro país.
A diretoria gostaria que seu filme fosse "visto no máximo de países africanos" possíveis, assim como "nas escolas e nas universidades", disse ela à AFP.
Trata-se do segundo filme africano a receber o Urso de Ouro, depois do sul-africano "Carmen na África", de Mark Dornford-May, em 2005.
No ano passado, o cobiçado prêmio foi para o francês Nicolas Philibert por seu documentário "No Adamant", sobre um centro psiquiátrico que funciona em um barco no rio Sena, em Paris.
O júri também reconheceu o romeno-americano Sebastian Stan por sua atuação em "A Different Man", com o prêmio de melhor atuação principal.
O grande prêmio do júri foi para um habitué do festival, o diretor sul-coreano Hong Sang-soo, pelo filme "A Traveller's Needs", do qual a francesa Isabelle Huppert participa. O longa conta a história de Iris, uma mulher mais velha que faz um bico como professora de francês na Coreia do Sul e se torna alcóolatra.
Já o filme "L'Empire", do francês Bruno Dummont, obteve o prêmio do júri.
De Paris a Cotonou
Para relatar a história das 26 obras saqueadas em 1892 pelas tropas coloniais francesas no reino de Daomé, no centro-sul do atual Benin, composto à época por vários reinos, Mati Diop deu voz à estátua do rei Ghezo.
Na língua do Benin, o fon, o rei queixa-se de ter perdido seu nome, passando a ser chamado unicamente por um número, "o 26", nas reservas do museu etnológico francês de Quai Branly, em Paris. O monarca descreve como o arrancaram de sua terra, sua vida no exílio e sua recente repatriação ao museu de Cotonou, capital do Benim.
A restituição ocorreu em 10 de novembro de 2021 e se deu por iniciativa dos presidentes francês, Emmanuel Macron, e do beninês, Patrice Talon, mas eles não aparecem no filme.
A diretora insiste em que devolveram apenas 26 obras "das 7.000 que seguem cativas no museu de Quai Branly".
Filme brasileiro leva prêmio
“Cidade; Campo”, de Juliana Rojas, conta duas histórias de migração em direções opostas em que são abordadas temáticas como relações de trabalho e com a natureza, empoderamento feminino, amor entre duas mulheres, luto, entre outras.
O filme inicia com a saga de Joana (interpretada por Fernanda Vianna), que teve sua casa destruída na tragédia de Mariana (MG) e busca abrigo na casa da irmã, Tânia (Andrea Marquee), em São Paulo (SP). Na sequência, a trama se concentra em Joana (Mirella Façanha), que se muda com a esposa Mara (Bruna Linzmeyer) do meio urbano para a fazenda do pai, após seu falecimento.
Ainda na mostra Encounters, o longa "Dormir de Olhos Abertos", da alemã Nele Wohlatz, uma coprodução Alemanha/Brasil/Argentina/Taiwan, (coproduzido pelo Kleber Mendonça Filho) ficou com o prêmio Fipresci (International Federation of Film Critics).
(com AFP)
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