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França/Economia

Ano difícil para criadores põe em cheque a vocação francesa para o campo

A mesa de qualquer lar francês revela a ligação íntima da cultura do país com a criação de animais. Alimentos à base de carne de gado, porco, ganso e até coelho fazem parte do cardápio, mas a vocação da França para o campo está sendo colocada à prova neste 2015 de profunda crise econômica na pecuária.

Laurent Ulrich, criador francês da região de Strasbourg.
Laurent Ulrich, criador francês da região de Strasbourg. REUTERS/Vincent Kessler
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O setor representa cerca de 900.000 postos de trabalho diretos e indiretos na França, e aproximadamente 10% dos estabelecimentos (entre 22.000 e 25.000) estão a ponto de quebrar, segundo dados do Ministério da Agricultura.

O preço baixo da carne de gado levou criadores a bloquearem estradas e a paralizarem o país no mês de julho. O argumento: eles já não conseguem mais pagar as contas diante da concorrência da carne vinda de fora, que chega a preços arrasadores. Até mesmo caminhões transportando frango brasileiro se tornaram alvo dos manifestantes.

O governo anunciou um plano de urgência no valor de € 600 milhões para os pecuaristas e os produtores de leite. As medidas anunciadas pelo governo socialista do primeiro-ministro Manuel Valls incluem a redução da enorme dívida dos produtores, assim como a extensão de contribuições sociais. O governo também quer promover a exportação de carne, a melhora do controle dos rótulos e medidas para que os restaurantes das escolas consumam carne francesa.

Crise do porco

Em agosto, foi a vez dos criadores de suínos se rebelarem. A “crise do porco” ainda tem como ingrediente o embargo russo de produtos ocidentais, consequência do conflito na Ucrânia. Mas o fato é que estas questões circunstanciais podem não explicar todo o problema. Para alguns analistas, a França pode estar diante de um momento-chave em que deverá discutir como enfrentar a produção massiva de países com uma extensão territorial muito maior do que a sua, como o próprio Brasil.

O presidente do partido Republicanos, o ex-presidente Nicolas Sarkozy, diz que a crise do setor não deve diminuir tão cedo, porque não se trata “de uma crise conjuntural, mas estrutural”. “É preciso uma queda massiva dos encargos para permitir aos agricultores sobreviver”, disse Sarkozy, na quarta-feira (19), em visita a produtores. Para ele, os criadores franceses não podem mais depender de subvenções, como acontece historicamente, e sim passar a viver de um preço competitivo. O que se torna quase impossível no modelo econômico francês atual.

As subvenções ao campo, aliás, são um dos últimos entraves à formalização do acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, que patina há anos. Um eventual desembarque da carne argentina e brasileira na Europa com preços ainda mais competitivos que os atuais, significaria uma pá de cal em um negócio milenar do Velho Continente. Ou o obrigaria a caminhar em direção ao que parece ser uma vocação mais adaptada aos tempos atuais: a produção de alimentos com valor agregado, como é o caso do vinho.

(Com informações da AFP).
 

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