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Extrema direita quer o poder na Holanda, mas negociações prometem ser difíceis

Depois de saborear sua vitória eleitoral na Holanda, o político de extrema direita e islamofóbico Geert Wilders iniciou o processo formal de formação de um governo de coalizão nesta sexta-feira (24), um processo que promete ser particularmente tumultuado. O Partido da Liberdade (PVV) de Wilders conquistou 37 dos 150 assentos na câmara baixa, de acordo com os resultados quase completos. O desfecho foi inesperado para o político de 60 anos, mas não lhe garante o cargo de primeiro-ministro.

Geert Wilders, líder do Partido pela Liberdade, o PVV, fala com a imprensa em Haia, na Holanda, na quarta-feira, 22 de novembro de 2023.
Geert Wilders, líder do Partido pela Liberdade, o PVV, fala com a imprensa em Haia, na Holanda, na quarta-feira, 22 de novembro de 2023. AP - Mike Corder
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Wilders havia se declarado a favor de uma coalizão majoritária composta pelo Novo Contrato Social (NSC, 20 assentos) do pró-reforma Pieter Omtzigt, o Movimento dos Agricultores-Cidadãos (BBB, 7 assentos) e o Partido Popular pela Liberdade e Democracia (VVD, 24 assentos), de centro-direita.

Mas pouco antes do início das discussões no parlamento nesta sexta-feira, a nova líder do VVD, Dilan Yesilgöz, disse que seu partido, que estava no poder há 13 anos, não tinha mais lugar no Executivo. "Com a perda de dez cadeiras, o eleitorado enviou um sinal claro para o VVD", disse Yesilgöz. "Isso não torna as coisas mais fáceis", reagiu Wilders.

O novato político Pieter Omtzigt, do novo partido anticorrupção NSC, disse que estava "disponível" para negociações, mas admitiu que o processo não seria "fácil". Wilders atenuou sua retórica inflamada islamofóbica e anti-imigração durante a campanha, mas o manifesto do PVV pede a proibição de mesquitas e do Alcorão, bem como um referendo sobre a saída da União Europeia.

Ele sempre reiterou sua disposição de fazer concessões em algumas de suas posições mais difíceis e garantiu que seria o "primeiro-ministro de todos os holandeses".

Tabu

Yesilgöz quebrou um tabu de longa data ao declarar durante a campanha que estava aberta a uma coalizão com o partido de extrema direita caso vencesse as eleições. Segundo os analistas, isso contribuiu para a vitória eleitoral do PVV.

Pouco antes da eleição, ela rejeitou a ideia de participar de um governo liderado por Wilders, mas permaneceu evasiva após o resultado.

Em geral, os gabinetes dependem de uma maioria na câmara baixa (76 assentos) quando são formados. Mas o fragmentado sistema político holandês significa que, muitas vezes, são necessários quatro ou mais partidos para atingir esse número.

Outra opção rara é um governo minoritário que deve sempre tentar encontrar uma maioria parlamentar para suas propostas. "Portanto, governar não é uma escolha óbvia" para o VVD, enfatizou Yesilgöz na sexta-feira. Mas prometendo não "fugir de suas responsabilidades", ela disse "apoiar construtivamente um gabinete de centro-direita com boas medidas", embora agindo a partir da "Câmara".

"Um governo de maioria de direita não é possível" se o VVD mantiver sua decisão de não fazer parte dele, disse Albert Bos, jornalista político da emissora pública NOS.

Os líderes da comunidade muçulmana holandesa expressaram seus temores após a vitória de Wilders, mas alguns muçulmanos são pragmáticos. "Acho que ele merece uma chance", disse Burak Cen, um motorista de táxi de 40 anos, em um café de Amsterdã.

Wilders está "apenas tentando atrair votos com sua propaganda sobre mesquitas e muçulmanos", acredita Cen. "Mas, fora isso, o que ele diz sobre os holandeses e a pobreza está certo".

Manifestantes se reuniram na quinta-feira em Utrecht (oeste) e Amsterdã para protestar contra a surpreendente vitória eleitoral de Wilders. Outra manifestação está planejada para esta sexta-feira.

Vitória da extrema direita na Holanda chega em bom momento para Le Pen

O desempenho inesperado da extrema direita nas eleições parlamentares holandesas chegou no momento certo para o partido Reunião Nacional (RN), de Marine Le Pen, que vê a vitória desse aliado como uma "onda europeia pelo retorno das nações e contra a imigração".

"É porque existem povos que se recusam a ver a tocha nacional apagada que a esperança de mudança permanece viva na Europa", acrescentou a líder dos deputados franceses de extrema direita na France Inter, parabenizando o líder do PVV, Geert Wilders, "um aliado do RN" no Parlamento Europeu.

Marine Le Pen deve comemorar esse sucesso com outro de seus aliados: ela vai a Lisboa nesta sexta-feira para o congresso do partido europeu Identidade e Democracia, ao qual pertencem o RN e o PVV - eles fazem parte do grupo de mesmo nome no Parlamento Europeu de Estrasburgo.

Na capital portuguesa, Le Pen, três vezes derrotada nas eleições presidenciais francesas, deve discursar ao lado do líder do partido português Chega, André Ventura, agora creditado com 17% das intenções de voto para as eleições parlamentares antecipadas em março - dez pontos a mais do que nas eleições de janeiro de 2022.

Embora esse partido esteja atrás em intenções de votos da formação de centro-esquerda do primeiro-ministro demissionário (26%) e da formação de centro-direita (25%), seu apoio pode ser essencial para formar uma coalizão governamental de direita e extrema direita em Portugal.

(Com AFP)

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