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Tensão e boicote marcam novo referendo de independência da Nova Caledônia

O território francês de Nova Caledônia, situado no Oceano Pacífico, vive neste domingo (12) um terceiro referendo de independência. Os partidários da autonomia pediram até o último momento a suspensão do processo devido à pandemia de coronavírus.

A Nova Caledônia realiza neste domingo (12 de dezembro) o terceiro referendo de Independência da França. (Foto de referendo de 2020)
A Nova Caledônia realiza neste domingo (12 de dezembro) o terceiro referendo de Independência da França. (Foto de referendo de 2020) Theo Rouby / AFP
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A Nova Caledônia está situada a cerca de 2.000 quilômetros a leste da Austrália. A votação começa às 8h00 locais de domingo (12, 18h00 de sábado em Brasília) e terminam às 18h00 locais (2h00 em Brasília). Os primeiros resultados são esperados algumas horas após o fechamento das urnas.

Este é o terceiro referendo no arquipélago desde os Acordos de Matignon de 1988, que buscavam uma saída pacífica para a crise no território. Nas duas primeiras consultas, a ruptura com a França foi rechaçada. Neste domingo, os 185.000 habitantes de Nova Caledônia terão que responder se querem que Nova Caledônia obtenha sua soberania absoluta e seja independente.

O presidente da França, Emmanuel Macron, insiste que o Estado francês não tome partido no referendo e se dedica simplesmente a assegurar o desenvolvimento do processo. "No dia seguinte [à votação], seja qual for o resultado, haverá uma vida em comum" entre França e Nova Caledônia, disse o chefe de Estado na última quinta-feira (9).

O tema entrou para a pré-campanha política na França. Os candidatos de centro, direita e extrema direita defendem a manutenção do território na França e candidatos de esquerda a soberania do arquipélago.

O ministro francês dos Territórios Ultramarinos, Sébastien Lecornu, está na capital Nouméa para acompanhar de perto a votação.

Relação com a China

O referendo acontece em um momento de tensão entre a França e seus aliados na zona do Pacífico. Paris quer seguir tendo um papel de importância na região graças a seus territórios ultramarinos, entre eles a Nova Caledônia. Além disso, a França criticou em setembro a Austrália por romper um contrato de compra de submarinos entre os dois países, em favor de um pacto de segurança com Reino Unido e Estados Unidos.

Por trás dessa disputa está o papel da China na região. Os analistas suspeitam que uma Nova Caledônia independente poderia se aproximar da China, que tem a intenção de investir na exploração dos recursos naturais do arquipélago. Pequim já é o maior cliente para a exportação de metais de Nova Caledônia, em especial o níquel.

"Com o fim da proteção francesa, aparecem todos os elementos para que a China se estabeleça permanentemente em Nova Caledônia", opina Bastien Vandendyck, analista de Relações Internacionais especializado no Pacífico. Vandendyck considera que outras nações da região da Melanésia, como Fiji, Vanuatu, Ilhas Salomão e Papua Nova Guiné já são "satélites chineses". "Para a China completar seu 'colar de pérolas' em torno da Austrália só falta a Nova Caledônia", afirma o especialista.

Boicote

Os partidários da independência pediram um boicote à votação de domingo e o adiamento do referendo, alegando que não houve uma "campanha justa" por causa dos riscos da pandemia de coronavírus. Eles ameaçam não reconhecer os resultados do referendo.

O governo francês rejeitou o adiamento porque considera que a pandemia não é grave no território. A taxa de incidência local da Covid-19 é de entre 80 e 100 casos por 100.000 habitantes.

Por outro lado, as autoridades do arquipélago emitiram um alerta de ciclone para este sábado (11), e pediram que a população esteja atenta aos boletins meteorológicos.

Os defensores da permanência da Nova Caledônia como território da França convocaram uma mobilização maciça diante do boicote dos independentistas, para evitar que previsível vitória do “não” fique manchada pela baixa participação.

No primeiro referendo, em 2018, os defensores do “sim” ganharam com 56,7% dos votos, mas o apoio caiu para 53,3% na segunda consulta de 2020.

Em junho passado, os diferentes campos políticos do território deliberaram com o governo francês que, independentemente do resultado de domingo, o período que se inicia deve ser de "estabilidade e convergência". Um novo referendo deverá ser realizado em junho de 2023 para decidir o "projeto" futuro de Nova Caledônia.

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