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Credores do Casino sinalizam "acordo de princípio" sobre oferta de aquisição do grupo

Os credores do Grupo Casino chegaram a um "acordo de princípio" sobre a oferta de aquisição feita pelo bilionário tcheco Daniel Kretinsky – apoiado pelo francês Marc Ladreit de Lacharrière e o fundo de investimentos britânico Attestor. No entanto, o anúncio de um possível resgate do grupo varejista francês, afundado em dívidas, foi mal recebido pelos investidores na Bolsa de Valores de Paris.

Fachada de um supermercado da rede Casino na França.
Fachada de um supermercado da rede Casino na França. AFP - JEFF PACHOUD
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Nas primeiras horas do pregão, nesta sexta-feira (28), as ações do Casino e de sua holding Rallye chegaram a despencar 20% e 21%, respectivamente. O grupo de supermercados francês, que tem 50.000 funcionários na França e cerca de 150.000 na América Latina, mudará de mãos no final dessa operação de reestruturação, que deverá ser concluída "durante o primeiro trimestre de 2024". 

O tcheco Kretinsky e seus associados ficaram "encantados" com o sinal positivo dos credores à proposta, que prevê a assinatura, em setembro, de um "acordo vinculativo" no qual os envolvidos se comprometem a "apoiar e executar quaisquer medidas ou ações razoavelmente necessárias" para concluir a reestruturação. O Casino deverá, então, ser colocado sob um procedimento de salvaguarda acelerado "em outubro", o que deverá permitir que os credores remanescentes sejam incluídos, mesmo que a contragosto.

Os candidatos à aquisição do Casino afirmaram nesta sexta-feira que estavam "satisfeitos com o fato de seu projeto industrial para o resgate do grupo a longo prazo" ter "recebido o apoio dos principais credores e parceiros bancários", em um comunicado conjunto à imprensa.

A oferta de aquisição "permite prever uma redução significativa da dívida do grupo Casino", ao final da qual ele "poderá tirar o máximo proveito de seus numerosos ativos, da qualidade de suas localizações e do compromisso de suas equipes, não sendo mais penalizado por sua dívida excessiva".

O bilionário checo Daniel Kretinsky vai assumir a direção do Casino no início de 2024.
O bilionário checo Daniel Kretinsky vai assumir a direção do Casino no início de 2024. AFP - JOEL SAGET

Estrangulado por uma dívida líquida de € 6,4 bilhões no final de 2022, o Casino havia estabelecido a data de quinta-feira (27) para chegar a um acordo de princípio com seus credores. A oferta do tcheco Daniel Kretinsky e seus associados prevê a injeção de € 1,2 bilhão em dinheiro novo e a redução de quase € 5 bilhões da dívida do grupo. Também há planos de vender as atividades do Casino na América Latina, especialmente no Brasil, onde trabalham três quartos dos funcionários do grupo.

No fim de junho, o conglomerado francês anunciou a intenção de vender as suas parcelas no Grupo Pão de Açúcar, do qual é acionista controlador, com 40,9% das ações. Em todo o Brasil, são quase mil lojas em jogo – é o segundo maior pilar do Casino no mundo.

Esse plano de reestruturação resultará em uma diluição dos atuais acionistas do grupo francês. A holding Rallye, controlada pelo CEO do Casino, Jean-Charles Naouri, e endividada em cerca de € 3 bilhões, anunciou na noite de quinta-feira que "não teria outra solução realista a longo prazo a não ser a liquidação ou o fechamento do negócio".

Quanto ao Casino, sua situação financeira é crítica. O grupo registrou um prejuízo líquido de  € 2,23 bilhões no primeiro semestre de 2023, principalmente devido à depreciação de suas ações. Na manhã de sexta-feira, a empresa revelou previsões de negócios em forte retração para o resto do ano, depois de alcançar uma margem operacional na França de apenas 1,5% no primeiro semestre, em comparação com 7,8% no primeiro semestre de 2022.

No dia anterior, o Casino havia dito que "dadas as medidas legais ainda a serem tomadas para implementar a reestruturação financeira", "a situação atual é de incerteza" sobre sua capacidade de "continuar como uma empresa em funcionamento". No entanto, o grupo garantiu que não previa "nenhum problema de liquidez" até o final de 2023, desde que os custos financeiros e os vencimentos da dívida fossem congelados no final do período de conciliação.

Funcionários na expectativa de manutenção dos empregos

A situação do varejista está repleta de incertezas para seus funcionários. No comunicado à imprensa divulgado nesta sexta-feira, os titulares da oferta de aquisição do grupo declararam que "o objetivo é manter a sede do Casino em Saint-Étienne e sua força de trabalho, a fim de enfrentar os desafios de crescimento da empresa", e que "as equipes nas lojas e seus depósitos devem ser reforçadas com o objetivo de preservar os empregos em toda a rede de lojas".

Eles também especificaram que esses projetos "serão implementados, assim que a transação for concluída, sob a autoridade de um novo CEO", Philippe Palazzi, ex-executivo da varejista alemã Metro, da qual Daniel Kretinsky é um dos principais acionistas, e que também trabalhou para a gigante do setor de alimentos Lactalis.

Palazzi "contará com o apoio da equipe de gestão operacional de alta qualidade do Casino, em especial Magali Daubinet-Salen (Casino), Vincent Doumerc (Franprix), Thomas Métivier (CDiscount) e Guillaume Seneclauze (Monoprix)", disse o trio.

Sindicalistas da CFDT haviam alertado anteriormente que a situação do Casino apontava para novas transformações, "nas quais os funcionários poderiam ser a variável de ajuste". Já o ministro da Economia, Bruno Le Maire, havia declarado em 11 de julho que o governo francês estaria atento ao "futuro dos 50.000 funcionários do grupo" na França e à manutenção da sede histórica em Saint-Étienne (sudeste).

Nesta sexta, Le Maire deu seu "apoio" ao acordo alcançado, acreditando que ele "abre caminho para uma solução duradoura para o futuro do grupo e constitui um passo decisivo em direção a um acordo final a ser ratificado até o final do ano", destacou.

Jean-Charles Naouri, um 'tubarão' devorado pela própria ganância

O empresário francês foi apelidado de “lobo”, “tubarão” ou “predador”, depois de consolidar o método de entrar aos poucos no capital de empresas familiares em apuros, mas sempre com opção de compra futura – que, na maioria dos casos, se tornava fatal, como no Grupo Pão de Açúcar. Era o auge da expansão fulminante do Casino nos mercados emergentes, sob o comando de Naouri. Mas a fama de "gênio das finanças" caiu por terra depois que os balanços do Casino se anunciavam cada vez mais deficitários.

O jornal Le Monde antecipou há algumas semanas que o poderoso CEO "deve deixar o mundo do varejo como entrou: sozinho e sem fortuna, depois de protagonizar uma fábula darwinista em que devorou a todos até ser ele próprio devorado”. Além das lojas na América do Sul, o Grupo Casino detém na França os supermercados Monoprix, Franprix, Géant e Spar.

(Com informações da AFP)

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