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Fraude na Volkswagen é alerta para os europeus, diz ONG na origem do escândalo

Uma entrevista com o diretor da ONG ecologista americana que revelou a fraude da Volkswagen e as mentiras que dominam atualmente o mundo das empresas são alguns dos temas da imprensa francesa desta quinta-feira, 24 de setembro.

A  Volkswagen procura um sucessor para o CEO Martin Winterkorn, que pediu demissão ontem do cargo.
A Volkswagen procura um sucessor para o CEO Martin Winterkorn, que pediu demissão ontem do cargo. REUTERS/Fabian Bimmer/Files/Axel Schmidt
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O jornal Aujourd'hui en France localizou, em Washington, Drew Kodjak, diretor da ONG americana Internacional Council of Clean Transportation (ICCT) que milita por um transporte com carros menos poluentes. A ONG está na origem da revelação do escândalo e na entrevista o diretor executivo explica como chegaram às conclusões do esquema da montadora alemã.

Segundo Kodjak, tudo começou na Europa, onde testes com motores a diesel em condições reais de circulação mostraram um nível de poluição até sete vezes mais alto do que as normas em vigor. A Ong americana decidiu realizar em 2013 testes com três carros europeus vendidos nos Estados Unidos, sendo dois deles da Volkswagen. O investimento nos testes foi caro, de U$ 100 mil, de acordo com o diretor.

O relatório da ONG mostrando o alto nível de poluição dos carros europeus foi entregue às autoridades americanas em 2014. No documento, a associação revela que o nível de emissão de óxidos de azoto (NOx) era de 15 a 35 vezes superior às normas dos Estados Unidos.

"Quando entregamos nosso relatório às autoridades americanas não podíamos imaginar, é claro, que se tornaria um escândalo mundial. E nós ficamos muito surpresos ao descobrir depois que o segundo maior construtor mundial tinha instalado um software fraudulento em alguns de seus modelos", declarou.

Na entrevista ao Aujourd'hui en France, Drew Kodjak diz que a maior lição desse caso é que os governos, principalmente na Europa, devem desenvolver programas de testes nas estradas para verificar a verdadeira emissão de poluentes.

"O escândalo deveria ser um sinal de alerta para a Europa porque revela, no fundo, um fracasso das políticas públicas de controles de emissões de poluentes dentro da União Europeia".

Para Kodjak, se não houver mudanças nos testes de veículos, as fraudes podem se repetir. "Não deveria ser responsabilidade de uma pequena ONG como a nossa verificar a veracidade dos dados indicados pelos fabricantes", conclui.

Mentira por toda parte

O escândalo custou a demissão do CEO da Volkswagen, Martin Winternkorn, mas, de acordo com o jornal Libération, a mentira é algo bastante comum no mundo empresarial

Libé traz uma extensa reportagem, que começa na capa do jornal, para mostrar que o caso da Volkswagen é uma ilustração extrema de como no universo empresarial a mentira faz parte do trabalho dos funcionários, desde os que ocupam cargos de direção até os que exercem as funções mais subalternas. Um comportamento, aliás, que é estimulado pela própria empresa, segundo Libération.

Para cumprir metas ou esconder alguma informação relevante, os empregados são induzidos a mentir, o que pode trazer complicações até para a saúde deles.

Um ex-diretor de recursos humanos de um grande grupo farmacêutico, que virou consultor e não foi identificado, explica que a mentira faz parte da organização do trabalho e tudo pode ser manipulado através de números e planilhas.

"Os dirigentes estão cada vez mais distanciados da realidade e tomam decisões irrealistas", diz a reportagem. Libération entrevistou também o psicólogo Duarte Rolo, que lançou o livro "Mentir no Trabalho", baseado em estudo de call-centers na França.

O pesquisador constatou que os telefonistas estão cada vez mais pressionados para cumprir metas e até venderem os produtos das empresas e, para isso, precisam muitas vezes mentir. "Esse sentimento de pressionar e até enganar o cliente está provocando sofrimentos graves nos funcionários, como depressão e até problemas cardiovasculares", constata Libération.

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