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Cerca de 811 milhões de pessoas passaram fome no mundo em 2020, alerta a ONU

Um agravamento que pode perdurar: a pandemia de Covid-19 terá efeitos de longo prazo na segurança alimentar mundial, após contribuir em 2020 para um aumento no número de pessoas que passam fome, alertou a agência especializada das Nações Unidas, a FAO, nesta segunda-feira (12). Esse agravamento da fome no mundo (+ 18% em um ano), o mais significativo em pelo menos 15 anos, compromete mais do que nunca o objetivo traçado pela ONU de erradicá-la até 2030.

Uma criança é atendida em um centro do Programa Mundial de Alimentos (PMA) e da ONG Action contre la Faim, na aldeia de Beraketa, no extremo sul de Madagascar, em 12 de novembro de 2020.
Uma criança é atendida em um centro do Programa Mundial de Alimentos (PMA) e da ONG Action contre la Faim, na aldeia de Beraketa, no extremo sul de Madagascar, em 12 de novembro de 2020. AP - Laetitia Bezain
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“Em 2020, entre 720 e 811 milhões de pessoas no mundo passaram fome, cerca de 118 milhões a mais do que em 2019, se levarmos em conta a média de 768 milhões”, relata a FAO em documento publicado com o apoio do Fundo Internacional para o Desenvolvimento da Agricultura, Unicef, Programa Mundial de Alimentos e Organização Mundial da Saúde. Mais da metade dessas pessoas subnutridas vive na Ásia (418 milhões), mais de um terço na África (282 milhões) e 8% (60 milhões) na América Latina.

“Vemos que os números ainda estão fortemente em alta”, lamentou Dominique Burgeon, diretor em Genebra do escritório da FAO nas Nações Unidas, em entrevista à AFP. De forma mais ampla, 2,37 bilhões de pessoas não tiveram acesso à alimentação adequada ao longo do ano em 2020, 320 milhões a mais do que em 2019. Isso faz com que o aumento seja “igual ao observado em todos os cinco anos anteriores”, de acordo com o relatório.

“Houve fatores que contribuíram para essa situação, ligados principalmente aos conflitos, vinculados ao impacto das mudanças climáticas, aos choques econômicos que alguns países estavam enfrentando”, explica Burgeon. “Tudo isso foi agravado pela situação de pandemia”, ele acrescenta.

Em alguns países, "particularmente nos países mais pobres, onde foram implementadas medidas para prevenir a propagação da pandemia", as restrições de deslocamento, por exemplo, impediram os pequenos agricultores de "venderem seus produtos aos mercados", privando-os de renda para sua subsistência.

Por outro lado, “em relação às cidades, por vezes havia problemas de abastecimento, o que significa que os preços estavam aumentando”, enfatiza Burgeon, se referindo em particular aos países da região do Sahel, da África Subsaariana, como o Congo.

Atraso do crescimento infantil

“Muito antes da pandemia da Covid-19, já não estávamos no caminho certo para erradicar a fome e todas as formas de desnutrição no mundo até 2030. Hoje, a pandemia tornou a tarefa ainda mais difícil”, revela o relatório.

O que pode ser ainda pior, de acordo com as projeções deste relatório, é que “cerca de 660 milhões de pessoas poderão passar fome em 2030, em parte por causa dos efeitos de longo prazo da pandemia de Covid-19 na segurança alimentar global - ou 30 milhões a mais em um cenário sem pandemia ”.

"O mundo não está no caminho para cumprir as metas estabelecidas para 2030 em relação a nenhum dos indicadores de nutrição", alerta o relatório, para o qual "a pandemia de Covid-19 provavelmente impactou a prevalência de múltiplas formas de desnutrição e pode ter efeitos duradouros além de 2020".

Cerca de “22% (149 milhões) das crianças menores de cinco anos são afetadas pelo atraso no crescimento”, sublinha o diretor da FAO, que destaca os “problemas de desenvolvimento cognitivo” que afetarão essas crianças por toda a vida. O relatório, apresentado nesta segunda-feira pelas cinco agências signatárias, "soa o alarme", ele enfatiza.

"As cúpulas sobre sistemas alimentares e nutrição que serão realizadas nos próximos meses são oportunidades para trazer essas questões de volta ao primeiro plano e para que haja abordagens muito mais deliberadas em nível global para implementar portfólios de políticas e investimentos que, em última análise, mudem essa situação", concluiu Burgeon.

(Com informações da AFP)

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