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Radar econômico

Sem gás russo, UE se prepara para disparada ainda maior dos preços da luz no segundo semestre

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Na medida em que a guerra da Ucrânia não dá sinais de chegar ao fim – e, junto com ela, as sanções ocidentais contra a Rússia –, os países europeus tentam se preparar para uma disparada ainda maior dos preços da energia durante o próximo inverno, no fim do ano. Analistas estimam que o aumento pode multiplicar os preços, já altos, por três. 

Desde o início das sanções ocidentais a Moscou, Kremlin dita os rumos das exportações de petróleo e gás russo para os países da União Europeia.
Desde o início das sanções ocidentais a Moscou, Kremlin dita os rumos das exportações de petróleo e gás russo para os países da União Europeia. REUTERS - DADO RUVIC
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Nos meses frios, o consumo sobe para atender à demanda por aquecimento e eletricidade nos imóveis europeus. O impacto pode ser devastador para os maiores consumidores, como as indústrias e os transportes, com um efeito dominó sobre a economia fragilizada pela inflação alta. Neste mercado, o preço do megawatt-hora (MWh) era comercializado a mais de €760 no fim de junho, nada menos do que 12 vezes o valor de 2019.

Em 2021, 45% do gás utilizado pela União Europeia veio do vizinho russo. Em muitos países, como a Alemanha, o gás é a fonte de quase um terço da eletricidade consumida no país.

Até agora, os países da União Europeia importadores do produto russo ainda não sofriam um impacto tão intenso das represálias de Moscou às sanções impostas pelo bloco desde o início do conflito. Os contratos de fornecimento são firmados com vários meses de antecedência – uma situação que já começa a se reverter e tende a piorar no segundo semestre.

Países menores que estavam em fim de contrato, como Polônia, Dinamarca e Bulgária, já tiveram as entregas cortadas. O mesmo começa a acontecer com Alemanha, Itália e França, três potências do bloco – uma decisão unilateral da Gazprom russa, sob a orientação do Kremlin. 

O alerta começa a soar: o nível dos reservatórios europeus de gás se encontra a 55% de sua capacidade, abaixo da média de 57% para esta época do ano. A maior ameaça pesa sobre a Alemanha – cuja indústria consome 30% do gás queimado no país. 

“Não me pronuncio sobre o longo prazo, mas se a retomada econômica for mesmo confirmada, a necessidade de energia vai crescer, especialmente a de eletricidade. Portanto, não há razão para os preços caírem”, constata Jacques Percebois, professor emérito da Universidade de Montpellier e especialista em energia. “A alta demanda não é a única razão: o preço das emissões de carbono também disparou. A tonelada de CO2 custava € 20 há dois anos e hoje ela está em mais de € 60”.

Economia de energia desde já

As importações de outros países, a preços mais elevados, não seriam suficientes para suprir a demanda europeia, no caso de Moscou fechar definitivamente as torneiras do gás e o petróleo.

Neste contexto de incertezas, os países não veem saída: voltam a acionar usinas a fontes fósseis, na contramão dos compromissos ambientais. Na França, cuja matriz depende 17% do gás russo para a produção de eletricidade, a central termelétrica a carvão de Saint Avold, na Alsácia, tinha sido definitivamente fechada em março – mas o governo já reconhece que ela poderá voltar a operar a partir de 1º de outubro. 

O confronto com a Rússia ocorre num momento particularmente inoportuno para a França – cerca de metade das centrais nucleares do país, que respondem por 70% da luz no país, estão paralisadas para manutenção. Os CEOs das maiores companhias francesas do setor, TotalEnergies, EDF e Engie, assinaram no fim de junho um apelo para que a população comece “imediatamente" a economizar energia. “Cada gesto conta”, diz o texto. 

A nova lei apelidada "do poder aquisitivo” dos franceses vem moldada pela “economia de guerra”, como definiu o presidente Emmanuel Macron. O projeto prevê uma série de reorganizações do setor de energia para assegurar a soberania do país, em proteção aos desmandos de Putin. 

Impulso para a transição energética

Na Alemanha, o fim definitivo das centrais nucleares, anunciado há anos, volta a ser questionado. Os holandeses, por sua vez, adiaram o encerramento das atividades do campo de gás de Groningen, o maior da Europa ocidental.  

“Já pudemos verificar a falência de algumas empresas no Reino Unido, onde o preço da eletricidade no mercado é particularmente elevado. Mas temos que ressaltar um aspecto: Se os preços da eletricidade e do gás permanecem baixos, ninguém vai investir na eficiência energética e em novas energias de substituição”, frisa Percebois.

“O aumento do preço agora é também um sinal para algo mais positivo. O problema é que esse aumento ocorre de maneira muito rápida e alguns acabam sofrendo mais do que outros. Os pequenos consumidores, que já vivem numa situação de precariedade energética, já estão numa situação muito difícil.”

Para o especialista, a curto prazo, são necessárias medidas financeiras dos Estados, como congelamento de preços, redução de impostos e ajuda par aos setores mais fragilizados. Mas a longo prazo, ressalta Percebois, a solução virá da pesquisa e da inovação para tornar as energias renováveis mais eficientes.

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