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Imprensa

Violência domina campanha eleitoral no Brasil, diz Le Monde

O jornal Le Monde deste domingo (30) tem chamada de capa sobre as eleições no Brasil. "A lógica do sangue pelo sangue", é a manchete da reportagem de quatro páginas assinada pela correspondente do diário em São Paulo, Claire Gatinois.

Capa do jornal Le Monde deste domingo (30).
Capa do jornal Le Monde deste domingo (30). Reprodução/Le Monde
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Na matéria, a repórter explica que a campanha eleitoral tem como pano de fundo a violência, que, segundo ela, tornou-se a maior preocupação dos brasileiros. "A guerra de gangues, a crescente insegurança, a crise social e a corrupção dos partidos políticos favoreceram a popularidade de métodos duros defendidos pelos militares e a extrema-direita", publica Le Monde.

Claire Gatinois viajou para Natal, capital de "um dos Estados mais violentos do Brasil", explica. No local, ela entrevistou João Miguel (nome modificado a pedidos da fonte), de 23 anos, membro do Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte que se orgulha de já ter assassinado três integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC), rival e maior facção criminosa do Brasil. Nesta "batalha sem piedade, aquele que não é um 'irmão' é um 'inimigo', abatido a sangue frio", escreve a jornalista, lembrando as frequentes barbáries nas prisões do Brasil.

Não é à toa que 85% dos eleitores brasileiros se dizem "muito preocupados" com a violência, destaca Le Monde, citando uma pesquisa do instituto RealTime BigData para a TV Record. Por isso, o jornal publica que, para resolver esse problema, "os brasileiros esperam uma demonstração de autoridade" e metade da população aprova o lema "bandido bom é bandido morto", ideias encarnadas pelo candidato da extrema-direita à presidência, Jair Bolsonaro.

Forças Armadas viraram "um refúgio" para os brasileiros

Oportunista e descomplexado, Le Monde diz que esse ex-militar de 63 anos, até então um político sem destaque ganhou popularidade quando os escândalos de corrupção tomaram conta dos partidos tradicionais. Defensor de uma possível intervenção militar, ele tem o apoio de boa parte da população: "78% dos brasileiros dizem ter confiança no Exército, 68% desconfiam de partidos políticos e 67% do Congresso". "Em um país à beira do abismo, as Forças Armadas aparecem como um refúgio, e a ordem é o objetivo que se busca", reitera o jornal.

A repórter também visitou a prisão de Alcaçuz, palco de uma briga de dois grupos rivais que terminou com a morte de 26 detentos em janeiro de 2017. Na matéria, a jornalista avalia que, ao mesmo tempo que os presídios são os maiores locais de recrutamento das gangues, continuam sendo a principal ferramenta para combater a criminalidade. "O Brasil é o quarto país com o maior número de prisioneiros", uma estratégia cara e ineficaz, avalia o periódico, em vista do aumento vertiginoso de homicídios. 

Impotente e sobrecarregada, a polícia assiste a essa "violência delirante", enquanto a crise e a corrupção esvaziam as caixas do Estado. Os policiais, considerados pela população como "os defensores do bem e do mal", também se veem diante de situações de estresse extremo e seus fracassos ocupam as capas dos jornais. Le Monde cita dados do site de notícias G1, segundo o qual a polícia matou 5.012 pessoas em 2017 no Brasil. Situação que serve para aumentar o ódio das gangues, gerando uma lógica do "sangue por sangue" entre policiais e criminosos. 

"Essas mortes inúteis e sem sentido não são a única explicação para a ascensão do candidato da extrema-direita, Jair Bolsonaro. Mas, aliadas ao sentimento de insegurança que elas geram, elas dão consistência ao discurso deste ex-militar", escreve o jornal, que conclui a matéria com uma frase da autoria do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, publicada em uma tribuna no jornal O Estado de São Paulo, em abril: "A história dos últimos 20 anos mostra que a democracia pode morrer sem que necessariamente haja golpes de Estado e supressão de eleições. Ela morre quando grupos e líderes políticos se aproveitam do rancor ou do medo do povo para sufocá-la pouco a pouco em nome da grandeza da pátria, da revolução ou do combate à desordem."

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