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França

Com apresentações de rua e ingressos baratos, ópera atrai jovens franceses

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Imagine estar caminhando pela rua e dar de cara com uma montagem completa – ou quase – de Don Giovanni ou as Bodas de Figaro, com direito a orquestra e tudo. No palco, ou melhor, na calçada, sopranos e barítonos ao redor de 25 anos, vestindo camisas xadrez e tênis. O sucesso do grupo Opera è Móbile pelas ruas da capital francesa ilustra o bom momento por que passa o gênero entre os jovens, ao ponto de a Ópera de Paris ter reservado, para a temporada que começa em agosto, 25 mil ingressos para menores de 28 anos.

Grupo Opera è Mobile carrega equipamentos pelas ruas de Paris.
Grupo Opera è Mobile carrega equipamentos pelas ruas de Paris. Divulgação
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Custando apenas €10, as entradas estarão disponíveis em 13 apresentações de estreia ao longo de todo o ano. A conta, claro, dá prejuízo, já que uma noite a preços normais, a venda dos 2.700 ingressos da Opera Bastille rendem € 350.000. O prejuízo causado pelos ingressos baratos será compensando por um grande banco francês, mecenas da operação.

Já o projeto Opera è Mobile, pretende atingir aqueles que querem gastar € 0 – ou apenas alguns centavos de doação, que são despejados dentro de um chapéu ao final da apresentação gratuita. O fundador do grupo é Saïte Chen, chinês que se mudou para Paris ainda pequeno. Consultor de finanças aos 27 anos, ele toca piano apenas nas horas vagas. Um dia, resolveu se apresentar na rua ao lado de um amigo que cantava. Atraiu não só público, como outros músicos, principalmente estudantes de música erudita que não encontram palco.

“A casa de ópera tradicional é uma barreira dupla”, explica Chen. “Primeiro, é uma barreira para os novos cantores. É extremamente difícil conseguir se apresentar em uma casa de ópera, não há etapas intermediárias para chegar lá. É ou tudo, ou nada.” Do lado do público, também há um certo receio de ir ao teatro, mesmo que os ingressos sejam acessíveis. “Então, pensamos que deveríamos juntar os dois: as pessoas que querem cantar e as que querem ouvir, mas que não ousariam ir à casa da ópera, porque socialmente talvez este não seja o seu ambiente.”

Média de idade de 46 anos

A média de idade do público da Ópera de Paris hoje é de 46 anos (42 no balé), mas a missão da casa é tentar baixá-la. Através de várias campanhas e ingressos abaixo de £ 25, a Ópera Real de Londres, por exemplo, conseguiu fazer com que 40% de seu público hoje tenha menos de 45 anos. No ano passado, a montagem de Orfeo, de Monteverdi – de 1607, é considerada a mais antiga do mundo –, foi acompanhada de um game app para smartphone em que Eurídice deve encontrar Orfeo.

Já na ópera de rua, a plateia é quase toda jovem, já que o principal meio de divulgação dos espetáculos é o Facebook. “Além disso, é um público heterodoxo”, diz Chen. “Temos de tudo, incluindo moradores de rua e gente que está passando. O importante é que conseguimos demonstrar que a ópera pode ser compreendida por qualquer pessoa.”

Jovem profissional de marketing, Alice Macis, de 25 anos, já assistiu a várias apresentações do grupo. “Na rua, as pessoas chegam, aplaudem entre as músicas, é possível chamar os amigos para encontrar lá. Já a ópera tradicional tem muitos códigos formais. Você precisa estar muito elegante e deve comprar o ingresso com muita antecedência”, explica.

Depois de se apresentar pela primeira vez fora da França, em Londres, no mês passado, a Opera è Móbile agora está arrecadando fundos para montar La Traviata, de Verdi. “Não estamos em concorrência com a ópera tradicional, porque não atingimos o mesmo público”, diz Chen. E completa: “Eu espero que a gente seja uma etapa intermediária, no meio do caminho entre ‘nada’ e ‘casa de ópera’. Espero que as pessoas vejam o que a gente faz, e acabem se interessando também pela ópera tradicional.”

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