Acessar o conteúdo principal

Crise põe fim à "miragem automobilística" no Brasil, diz Les Echos

A crise na indústria automobilística brasileira ganhou amplo destaque da imprensa francesa desta segunda-feira (14). O diário econômico Les Echos analisa o impacto da queda nas vendas no mercado de trabalho e em toda a cadeia produtiva, mas aponta o otimismo das montadoras com o país ainda considerado um "eldorado".

Fotomontagem rfi/ lesechos.fr
Publicidade

Em uma extensa reportagem que ocupa uma página inteira, o diário econômico Les Echos traz um relato da crise que atinge um dos setores da economia brasileira que exibiu maior dinamismo dos últimos anos."As grandes construtoras investiram pesado no país no período fasto, mas agora são atingidas em cheio pela crise e vêem suas vendas despencarem", constata.

O cenário catastrófico descrito pelo jornal é apoiado em vários números. Desde o início do ano, 700 concessionárias de veículos fecharam suas portas no país. Segundo a Fenabrave (Federação Nacional de Distribuição de Veículos Automotores), 17 mil empregos foram suprimidos. Os sintomas da "crise profunda" afetam toda a cadeia automobilística, constata Les Echos.

As montadoras fazem o que podem para ajustar a oferta à demanda, em um contexto de recessão e inflação alta. Em um ano, a indústria perdeu 10% de seu efetivo e mais de 27 mil trabalhadores estão no desemprego parcial. O mercado degringolou 20% este ano, depois de perdas de 7%, em 2014.

Crise mais grave que previsto

As empresas do setor não esperavam um cenário tão catastrófico, aponta o diário, relatando "o pessimismo que tomou conta do mercado." Les Echos cita o exemplo das marcas francesas que apostaram no Brasil: a Peugeot e a Citroen registraram, em média, queda de 40% nas vendas e a Renault teve um recuo de 18% de vendas nos oito primeiros meses de 2015. A grande marca francesa, aliás, foi ultrapassada até pela coreana Hyundai e passou para a sexta posição entre as montadoras do país.

Segundo o jornal, só a japonesa Nissan consegue estabilizar suas vendas no país. Les Echos diz que houve um problema estratégico; de erro de avaliação e no "timing", ou seja, o momento certo para investir. "As empresas fizeram muitos investimentos no período de forte crescimento econômico, mas os carros chegaram ao mercado no momento da crise", diz. Agora, a conta não fecha: a capacidade de produção é de 4,6 milhões de veículos, mas as empresas têm uma previsão de vender apenas 2,5 milhões de unidades este ano.

Muitas empresas apostaram que o Brasil iria se tornar o terceiro maior mercado mundial de carros, mas a expectativa não se confirmou e o país atualmente é o sexto. Por isso, a escolha do seguinte título para reportagem: o fim da "miragem automobilística".

O jornal também aponta ainda a preocupação das montadoras em melhorar a rentabilidade da atividade em um país que ainda não soube resolver vários problemas de competitividade. Ao contrário do México, compara Les Echos, o Brasil nada fez nos últimos anos para reduzir e simplificar a questão fiscal nem diminuir o custo da mão de obra. Além do "peso" da legislação trabalhista, o país também enfrenta um grave problema de logística, aponta o diário. O custo de produção no Brasil é 25% superior ao dos Estados Unidos, confidenciou ao jornal uma fonte de uma empresa francesa.

Otimismo com o "eldorado"

Les Echos lembra que no início do ano, a indústria tinha a expectativa de manter suas vendas em um patamar estável, mas agora prevê uma queda de 20%. O jornal informa que as montadoras aproveitaram bem o período de fartura no Brasil, quando os preços das matérias primas alavancaram o crescimento do país.

A explosão do crédito e o aumento do poder de compra de muitas famílias que migraram para a classe média foram benéficos para o setor automobilístico. "Mas o modelo do crescimento baseado no consumo interno mostrou seus limites", escreve Les Echos. Dilma Rousseff foi reeleita prometendo a continuidade, mas agora tem que optar pela austeridade para conter os desequilíbrios que ameaçam o país e já anunciou que a cura virá com "remédio amargo".

Apesar desse cenário pouco favorável, muitas empresas ainda acreditam no "eldorado brasileiro", afirma Les Echos, citando vários exemplos. A General Motors vai dobrar seus investimentos até 2019, com cerca de € 3 bilhões em cinco anos. A Fiat Chrysler Automobiles acaba de inaugurar uma fábrica de jeeps no nordeste.

Audi, BMW e Land Rover também fincaram bases no país e os franceses também acreditam no mercado. A Renault, que já consegue produzir um carro por minuto em sua fábrica na região de Curitiba, afirma que o Brasil ainda tem potencial de mercado porque a média de consumo ainda é baixa, de um carro para cada cinco habitantes. Essa relação já foi de um para nove habitantes no passado.

Muitas empresas acreditam que o problema atual é o mercado interno, por isso apostam também nas exportações para superar a fase ruim. E claro, também no marketing. A Citroen, por exemplo, vai propor uma passagem de ida e volta até Nova York para quem comprar um modelo da marca.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.