Tensões diminuem no Senegal, mas número de mortos sobe para 16 após condenação de opositor
O forte clima de tensão está se acalmando aos poucos no Senegal, onde os confrontos, mesmo se de menor intensidade agora, ainda fizeram uma nova vítima no sábado (3), elevando o número oficial de mortos para 16 desde a condenação, na quinta-feira (1), do oponente senegalês Ousmane Sonko a dois anos de prisão.
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Com informações de Juliette Dubois e Charlotte Idrac, correspondentes da RFI em Dacar
Os senegaleses continuam temendo a prisão do pré-candidato à corrida presidencial de 2024. Enquanto os campos de Sonko e do presidente Macky Sall se culpam mutuamente pela violência e pelas mortes, o governo decidiu cortar "temporariamente" o acesso à internet por telefone.
Em um comunicado de imprensa divulgado no domingo (4), o Pastef, partido de Sonko, condenou "a repressão assassina das forças de defesa e segurança" e acusou as autoridades de usarem "milícias privadas" para "subjugar" a população civil. O texto afirma que o número de mortos chega a 19 entre os manifestantes.
A oposição continua exortando os senegaleses "a se defenderem por todos os meios e a revidar".
O governo, por sua vez, denuncia "atos de vandalismo e banditismo", obra dos partidários do Sonko apoiados por "forças ilegais", "estrangeiros" que vêm "desestabilizar o país" e "mergulhá-lo no caos".
Muitos prédios e estabelecimentos comerciais foram destruídos em Dacar, mas também em Ziguinchor, cidade do sul do país onde Ousmane Sonko é prefeito. Uma unidade da Aliança Francesa foi incendiada e vandalizada, assim como o centro cultural regional e algumas escolas.
Au Sénégal, seize personnes sont mortes depuis jeudi dernier...
— RFI (@RFI) June 5, 2023
Comment sortir de la crise qui ensanglante ce pays depuis que l’opposant Ousmane Sonko a été condamné à deux ans de prison ?
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Manifestantes armados
O diretor de Segurança Pública, Ibrahim Diop, declarou na noite de domingo que os manifestantes detidos estavam armados com coquetéis molotov, facas e armas de guerra. O ministro do Interior anunciou no sábado cerca de 500 detenções.
Em um comunicado de imprensa divulgado no domingo, a Cruz Vermelha anunciou que resgatou 357 manifestantes feridos, incluindo uma mulher grávida, e 36 membros das forças de defesa e segurança desde o início dos distúrbios. Entre eles, 78 estavam gravemente feridos.
Juristas e sociedade civil denunciam abusos. O advogado Abdy Nar Ndiaye defende diversas pessoas presas nos últimos dias. “São jovens, adultos ou até idosos. Eles são acusados de participar de manifestações não-autorizadas e de perturbar a ordem pública”, explica.
A Liga Senegalesa de Direitos Humanos denuncia violações de direitos. De acordo com a organização, houve excesso de brutalidade durante as prisões e custódia policial. “É verdade que as manifestações saíram de controle, mas isso não autoriza abusos, o que estamos documentando e que não vamos deixar impune”, afirma um porta-voz.
Desconectados
O governo suspendeu, no domingo, o acesso à internet a partir de telefones "devido à disseminação de mensagens odiosas e subversivas". As redes sociais, como WhatsApp, Facebook e Twitter, já estavam indisponíveis.
"A Internet de dados móveis está temporariamente suspensa durante determinados horários", informava o comunicado de imprensa do Ministério das Comunicações.
As manifestações começaram na quinta-feira em resposta à condenação a dois anos de prisão do opositor Ousmane Sonko, declarado candidato presidencial para 2024. Ele foi acusado de ter induzido uma jovem com menos de 21 anos à "depravação".
Esta decisão o torna inelegível por enquanto. Sonko, popular entre os jovens, tem clamado desde o início do caso por uma conspiração do presidente Macky Sall para eliminá-lo politicamente.
O ministro senegalês da Justiça, Ismaila Madior Fall, declarou que Sonko pode ser preso "a qualquer momento". Essa prisão poderia relançar o ciclo de violência.
Ousmane Sonko afirma estar "isolado" em sua residência em Dacar por forças de segurança que impedem a aproximação de qualquer pessoa. Ele não falou publicamente desde sua condenação.
Representante dos jovens
Na noite de sábado, um dos líderes da coalizão de oposição, o prefeito de Dacar, Barthélémy Dias, pediu ao presidente Macky Sall que se manifestasse e desistisse de uma candidatura para um terceiro mandato.
Depois de diversas declarações em que afirmou que não iria concorrer em 2024, Macky Sall lança agora dúvidas sobre uma candidatura.
Rendu de nos échanges avec Charlotte Idrac sur la situation au Sénégal et les voies de sortie de crise… https://t.co/6bi8G9TkiM
— Elimane H KANE (@ElimaneH) June 5, 2023
“[Esta situação] Era previsível”, avalia Elimane Haby Kane, presidente do think tank Legs Africa, em entrevista à RFI. “Os sinais de alerta já existiam há muito tempo. O pano de fundo é a situação dos jovens, abandonados [no país]”, explica.
Hoje, 25% da população do Senegal tem menos de 35 anos. "A raiva social se sente representada por Ousmane Sonko, o líder político mais virulento contra o poder", afirma Kane.
Os apelos à calma e ao diálogo se multiplicaram nos últimos dois dias por parte de diversos países, como França e Estados Unidos, e de organismos internacionais.
(Com informações da AFP)
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