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Queda mundial da fertilidade levará África a ter um a cada três habitantes do mundo em 2100

Um estudo publicado na revista científica The Lancet nesta quarta-feira (20) apontou que a fertilidade em baixa é insuficiente para manter a população na maioria dos países, fenômeno que deve se agravar e acentuar os desequilíbrios entre regiões. No ritmo atual, as projeções indicam que, em 2100, um a cada três habitantes da Terra viverá na África.

Mulheres esperam para serem examinadas na maternidade do Hospital Phebe em Bong Town, no centro da Libéria.
Mulheres esperam para serem examinadas na maternidade do Hospital Phebe em Bong Town, no centro da Libéria. AFP - ZOOM DOSSO
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"A fertilidade está em declínio no mundo", resume o trabalho publicado na respeitada revista, que observa que mais da metade dos países apresenta uma taxa de fertilidade muito baixa para manter seu nível populacional. E "no futuro, as taxas de fertilidade continuarão em declínio no mundo", acrescentou.

O estudo baseia-se em dados do Global Burden of Disease, um programa financiado pela fundação norte-americana Bill & Melinda Gates que busca reunir dados de saúde da maioria dos países. Os pesquisadores também tentaram calcular a evolução das taxas de fertilidade com base em variáveis como os níveis educacionais ou a mortalidade infantil.

Segundo essas estimativas, até 2050, três em cada quatro países terão uma taxa de fertilidade insuficiente para garantir a substituição demográfica. Antes do final do século, a maioria dos países enfrentará esse problema.

Desequilíbrios entre regiões

Os pesquisadores preveem que a população de países com menores rendimentos continuará a aumentar por um longo período, especialmente na África subsaariana, e que diminuirá nos países desenvolvidos. Esse desequilíbrio pode ter "consequências consideráveis nos planos econômico e social", alertaram.

Entretanto, especialistas da Organização Mundial da Saúde ressaltaram, na mesma edição da revista, que é preciso cautela em relação às previsões feitas por este estudo, e criticam várias decisões metodológicas, especialmente a pouca confiabilidade dos dados disponíveis em alguns países de menores rendimentos.

"É preciso priorizar os matizes e não o sensacionalismo ao falar sobre a queda das taxas de fertilidade", alertaram.

Os pesquisadores da OMS apontam que esse fenômeno tem aspectos positivos (ambientais ou alimentares), mas também negativos, em especial quanto aos sistemas de aposentadoria ou o emprego.

Decisão das mulheres de terem menos filhos

O geneticista e demógrafo francês Gilles Pison, professor emérito do Museu de História Natural, em Paris, e autor de Atlas de la population mondiale (Atlas da população mundial, em português), dedicou a carreira a estudar a evolução da natalidade no mundo.

Em entrevista à RFI, ele ressalta que a diminuição do número de filhos é uma decisão das mulheres e dos casais, observada há mais de 200 anos – primeiro nos países desenvolvidos da Europa e da América do Norte, e nos últimos 50 anos, também na América Latina e Ásia, em uma velocidade mais rápida do que o previsto. O fenômeno já começou na África, mas em um ritmo menos pronunciado.

"Em todo o planeta, as mulheres desejam ter menos filhos para poder assegurar-lhes uma vida longa e de qualidade. Elas sabem que se continuassem a ter muitos filhos, não conseguiriam investir tanto neles para que tenham uma vida melhor do que elas próprias”, afirma. "Nós nos aproximamos do crescimento demográfico nulo”, salienta.

Nas últimas projeções das Nações Unidas sobre as populações, publicadas há cerca de dois anos, a ONU prevê que o planeta terá 10 bilhões de humanos em 2080. A partir de então, a tendência é de estabilidade populacional ou até uma ligeira queda.

“A repartição dos humanos no planeta será diferente. A população vai aumentar bastante na África: hoje, com 1,5 bilhão de habitantes, o continente africano tem um a cada 6 humanos da Terra. Em 2050, serão 2,5 bilhões e, até o fim do século, um a cada três seres humanos viverá na África”, acrescenta Pison. “O continente vai tomar um espaço cada vez mais importante no mundo, tanto demográfica quanto economicamente.”

(Com informações da AFP)

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